ou
(o início da queda de um império corrupto impune de trinta anos)
com
(o início da queda de um império corrupto impune de trinta anos)
com
LINA DA SALGADEIRA & GIORGIO DI BUFA
Nessa noite, Lina ia fazer a sua derradeira tentativa.
Maravilhosamente depilada sem vestígios de uma única penugem e após ter-se deliciado com o seu banho de leite de burra, secando a sua bela pele acetinada, ela aí estava em todo o seu esplendor.
Sem dúvida. Estava em grande forma, para o que desse e viesse.
Dirigiu-se ao seu luxuoso guarda-roupa e não hesitou na escolha da lingerie íntima – o “pijama” daquela célebre noite no Norte de Espanha. Nada mais nada menos que uma “jaqueta” anã, tipo cai-cai, dando-lhe por o umbigo, muito curta, transparente e fina, que lhe “escondia” maliciosamente metade dos belos seios, mantendo-os seguros e firmes, com uma mini-tarjeta a toda a largura, na base, dizendo, “Made in Spain, Torada à Española”. Uma bela peça que ela nunca esqueceu, comprada numa “tienda” em San Milagro de Comportela, e que era sem sombra de dúvidas o seu talismã das grandes noites!
Quente e sensual, quase como o Criador a deitou ao mundo, superiormente maquilhada, esperava preparada, pacientemente a chegada de Giorgio.
Como ele demorava, caramba!
Altas horas da madrugada, o cão, o gato e o papagaio agitaram-se num alvoroço infernal. Logo depois a calma voltou.
O dono chegava, silencioso e taciturno, deitando contas à vida, após mais um serão difícil na noite de todos os calores.
Abriu a porta do quarto e olhou para ela recostada na cama exibindo o seu belo e portentoso coxão, descoberta sobre as almofadas, sedenta de amor. Um autêntico vulcão, pronto a explodir!
Giorgio, indiferente, esboçou aquele sorriso irónico e sacaninha, treino de muitos anos, e gozando com a cena, perguntou, distante:
- Ainda estás acordada a esta hora?
Ela respondeu, surpresa e um pouco desagradada:
- Estou! Não posso, é?
Olha, tapa-te, porque está fresco e ainda te constipas!
Lina ficou desolada. Mas mantendo a compostura de muitas noites de prática alternante, lançou-lhe o repto final:
- Trouxeste a fruta, Giorgio?
- Fruta? Mas que fruta? – questionou ele atarantado.
- A tua fruta, a fruta que já desespero!
Ele balbuciou umas quantas palavras imperceptíveis e sem nexo enquanto ia vestindo aquelas midi-ceroulas delidas, às riscas azuis e brancas, talhadas pelo seu alfaiate da Madalena, já muito amarelecidas do uso e com uma grande mancha acastanhada atrás, por sinal, uma medalha conquistada às violentas tempestades flatulentas que fustigavam o seu ventre em noites de grande agitação e grande meteorismo.
- Não te chega a conta bancária e todas estas mordomias de uma primeira dama que julgas ser? – perguntou Giorgio.
Já vi que só pensas na outra fruta, aquela que o Toino Coarsujo levou para os teus amigos das apitadelas. Sempre o mesmo. Não tens emenda! – disse ela.
Isso é tudo mentira! – dizia ele.
É mentira, é! Queres ver que eu não ouvi a tua chamada para o Toino, queres ver que não? E o “Confins dos Tantos”? E o “Sabe Daarte”? Queres ver que foi um extraterrestre que passou aqui por casa para beber café? – afirmava Lina, já irritada, em jeito de pergunta.
Giorgio nem uma nem duas. Enfronhou-se na sua almofada de dragão bordado sobre as insígnias da agremiação e zás, toca a roncar que amanhã há mais uma arroba de “cebolas” para arrematar!
Lina ficou completamente arrasada. Ela, uma mulher de conquistas, derrotada, desprezada, gozada e humilhada por um Giorgio em evidente declínio.
A vida nunca mais foi a mesma.
Ela ainda tentou, timidamente, com a história do papagaio, mas este se não se punha a pau também ia direitinho para o panelão da desgraça.
A guerrilha doméstica instalou-se.
- “Toma lá quinhentos mil para não abrires a boca”. – atirava-lhe ele.
- “Não quero, porque o dinheiro já não me compra mais! Sou uma mulher despeitada!” – respondeu ela descoroçoada.
- “Então toma lá no lombo, que é para veres se te pões fina!” – dizia-lhe ele fora de si.
- “Ai, é? Não sabes com quem te meteste! Espera-lhe pela volta! – rematou ela, já em fanicos e com um olho mais negro que os desígnios do companheiro.
E assim foi.
Lina não baixou os braços. Passados meses, agarrando na “caneta” como ela tão bem sabe e soube fazer no passado, toca a juntar uns alinhavos numas folhas de papel costaneira de trinta e cinco linhas, mais aquelas fotografias dos “belos tempos” tiradas pela já celebérrima máquina descartável, e aí está – a obra nasce cheia de vitalidade e sensacionalismo!
Expectativa sobre expectativa, o dia do lançamento chegou!
A curiosidade era realmente muita. A obra esgotou depressa, tornando-se num “best-seller” à portuguesa. Autógrafos sobre autógrafos, sobretudo a Sul, com figuras “pilosamente” farfalhudas a comprarem livros às resmas para dar aos amigos e enviar sarcasticamente aos inimigos.
Pudera! Esta prosa é mais deliciosa do que um campeonato ganho –disseram todos ufanos os sequiosos compradores.
Ainda ocupado nas suas maquiavélicas conjecturas contra o “Papão Vermelho”, Giorgio só se apercebeu deste acontecimento quando passados poucos dias, viu com algum prazer que alguém lhe tinha deixado um livro de capa azul em cima da sua secretária, no seu gabinete de presidente.
Não era para admirar, pois a sua “douta cultura” e a sua “veia poética de declamador de pacotilha” reservavam-lhe destas surpresas-ofertas de obras literárias que ele tanto gostava.
Pegou no livro e, estranhamente leu o seu título.
“Eu, Lina da Salgadeira”.
- Porra! Mas que palhaçada é esta? – arengou ele com os seus botões, ficando imediatamente de semblante carregado.
- Já tenho uma biografia até aos cem anos, com largos dias, e vem esta delambida armada em escritora, dizer o quê?
Já irritado com a história, abriu o livro na primeira página e viu um grande marcador com uma fotografia de Lina, de óculos de sol, tipo vespa, com um soutien de sustentação preto, junto dos supermatulões e empunhando com ambas as mãos uma faixa-cartaz dizendo:
- PEIDOLAS, ESTOU AQUI!
Giorgio estremeceu por momentos. Sentiu a glicemia e a tensão subirem e com elas surgiu uma visão aterradora de um ser “bigodudo” e orelhudo, de fato vermelho, protegendo firmemente papoilas saltitantes. A apoplexia não tardou!
Era o início da queda de um império corrupto impune de trinta anos.
GRÃO VASCO
Nessa noite, Lina ia fazer a sua derradeira tentativa.
Maravilhosamente depilada sem vestígios de uma única penugem e após ter-se deliciado com o seu banho de leite de burra, secando a sua bela pele acetinada, ela aí estava em todo o seu esplendor.
Sem dúvida. Estava em grande forma, para o que desse e viesse.
Dirigiu-se ao seu luxuoso guarda-roupa e não hesitou na escolha da lingerie íntima – o “pijama” daquela célebre noite no Norte de Espanha. Nada mais nada menos que uma “jaqueta” anã, tipo cai-cai, dando-lhe por o umbigo, muito curta, transparente e fina, que lhe “escondia” maliciosamente metade dos belos seios, mantendo-os seguros e firmes, com uma mini-tarjeta a toda a largura, na base, dizendo, “Made in Spain, Torada à Española”. Uma bela peça que ela nunca esqueceu, comprada numa “tienda” em San Milagro de Comportela, e que era sem sombra de dúvidas o seu talismã das grandes noites!
Quente e sensual, quase como o Criador a deitou ao mundo, superiormente maquilhada, esperava preparada, pacientemente a chegada de Giorgio.
Como ele demorava, caramba!
Altas horas da madrugada, o cão, o gato e o papagaio agitaram-se num alvoroço infernal. Logo depois a calma voltou.
O dono chegava, silencioso e taciturno, deitando contas à vida, após mais um serão difícil na noite de todos os calores.
Abriu a porta do quarto e olhou para ela recostada na cama exibindo o seu belo e portentoso coxão, descoberta sobre as almofadas, sedenta de amor. Um autêntico vulcão, pronto a explodir!
Giorgio, indiferente, esboçou aquele sorriso irónico e sacaninha, treino de muitos anos, e gozando com a cena, perguntou, distante:
- Ainda estás acordada a esta hora?
Ela respondeu, surpresa e um pouco desagradada:
- Estou! Não posso, é?
Olha, tapa-te, porque está fresco e ainda te constipas!
Lina ficou desolada. Mas mantendo a compostura de muitas noites de prática alternante, lançou-lhe o repto final:
- Trouxeste a fruta, Giorgio?
- Fruta? Mas que fruta? – questionou ele atarantado.
- A tua fruta, a fruta que já desespero!
Ele balbuciou umas quantas palavras imperceptíveis e sem nexo enquanto ia vestindo aquelas midi-ceroulas delidas, às riscas azuis e brancas, talhadas pelo seu alfaiate da Madalena, já muito amarelecidas do uso e com uma grande mancha acastanhada atrás, por sinal, uma medalha conquistada às violentas tempestades flatulentas que fustigavam o seu ventre em noites de grande agitação e grande meteorismo.
- Não te chega a conta bancária e todas estas mordomias de uma primeira dama que julgas ser? – perguntou Giorgio.
Já vi que só pensas na outra fruta, aquela que o Toino Coarsujo levou para os teus amigos das apitadelas. Sempre o mesmo. Não tens emenda! – disse ela.
Isso é tudo mentira! – dizia ele.
É mentira, é! Queres ver que eu não ouvi a tua chamada para o Toino, queres ver que não? E o “Confins dos Tantos”? E o “Sabe Daarte”? Queres ver que foi um extraterrestre que passou aqui por casa para beber café? – afirmava Lina, já irritada, em jeito de pergunta.
Giorgio nem uma nem duas. Enfronhou-se na sua almofada de dragão bordado sobre as insígnias da agremiação e zás, toca a roncar que amanhã há mais uma arroba de “cebolas” para arrematar!
Lina ficou completamente arrasada. Ela, uma mulher de conquistas, derrotada, desprezada, gozada e humilhada por um Giorgio em evidente declínio.
A vida nunca mais foi a mesma.
Ela ainda tentou, timidamente, com a história do papagaio, mas este se não se punha a pau também ia direitinho para o panelão da desgraça.
A guerrilha doméstica instalou-se.
- “Toma lá quinhentos mil para não abrires a boca”. – atirava-lhe ele.
- “Não quero, porque o dinheiro já não me compra mais! Sou uma mulher despeitada!” – respondeu ela descoroçoada.
- “Então toma lá no lombo, que é para veres se te pões fina!” – dizia-lhe ele fora de si.
- “Ai, é? Não sabes com quem te meteste! Espera-lhe pela volta! – rematou ela, já em fanicos e com um olho mais negro que os desígnios do companheiro.
E assim foi.
Lina não baixou os braços. Passados meses, agarrando na “caneta” como ela tão bem sabe e soube fazer no passado, toca a juntar uns alinhavos numas folhas de papel costaneira de trinta e cinco linhas, mais aquelas fotografias dos “belos tempos” tiradas pela já celebérrima máquina descartável, e aí está – a obra nasce cheia de vitalidade e sensacionalismo!
Expectativa sobre expectativa, o dia do lançamento chegou!
A curiosidade era realmente muita. A obra esgotou depressa, tornando-se num “best-seller” à portuguesa. Autógrafos sobre autógrafos, sobretudo a Sul, com figuras “pilosamente” farfalhudas a comprarem livros às resmas para dar aos amigos e enviar sarcasticamente aos inimigos.
Pudera! Esta prosa é mais deliciosa do que um campeonato ganho –disseram todos ufanos os sequiosos compradores.
Ainda ocupado nas suas maquiavélicas conjecturas contra o “Papão Vermelho”, Giorgio só se apercebeu deste acontecimento quando passados poucos dias, viu com algum prazer que alguém lhe tinha deixado um livro de capa azul em cima da sua secretária, no seu gabinete de presidente.
Não era para admirar, pois a sua “douta cultura” e a sua “veia poética de declamador de pacotilha” reservavam-lhe destas surpresas-ofertas de obras literárias que ele tanto gostava.
Pegou no livro e, estranhamente leu o seu título.
“Eu, Lina da Salgadeira”.
- Porra! Mas que palhaçada é esta? – arengou ele com os seus botões, ficando imediatamente de semblante carregado.
- Já tenho uma biografia até aos cem anos, com largos dias, e vem esta delambida armada em escritora, dizer o quê?
Já irritado com a história, abriu o livro na primeira página e viu um grande marcador com uma fotografia de Lina, de óculos de sol, tipo vespa, com um soutien de sustentação preto, junto dos supermatulões e empunhando com ambas as mãos uma faixa-cartaz dizendo:
- PEIDOLAS, ESTOU AQUI!
Giorgio estremeceu por momentos. Sentiu a glicemia e a tensão subirem e com elas surgiu uma visão aterradora de um ser “bigodudo” e orelhudo, de fato vermelho, protegendo firmemente papoilas saltitantes. A apoplexia não tardou!
Era o início da queda de um império corrupto impune de trinta anos.
GRÃO VASCO