Já desde catraio, Trapacílio nunca largava a sua camisola às riscas verdes e brancas nem um gatito de peluche que lhe tinham comprado numa feira em Setúbelgrado, juntamente com um “apito” de barro, mais conhecido na gíria por “pífaro”, no qual assobiava que nem um melro. Mas tinha muito mau feitio.
Foi crescendo, e com a prática, já vestido de preto, cor dos melros, mas sempre com o verde por baixo, e com o gatito na consola traseira do seu automóvel, começou a refinar a sua tendenciosa queda para o apito, este já de lata, especializando-se nos palcos nacionais em apitar sempre para o mesmo lado – virava a cabeça, maneirinho, sempre para o lado onde nada, mas mesmo nada podia ter coloração vermelha gloriosa, sentindo em contrapartida uma atracção fatal pelo verde desmaiado.
Uma obsessão, através da qual Trapacílio granjeou um estatuto único, com um futuro musical promissor e mais que garantido!
Solista de uma “sinfónica” constituída por observadores-delegados, coniventes e cúmplices de uma estratégia antiga, por demais conhecida e viciada, continua actualmente a soprar como ninguém, num novo apito, de plástico, amarelo como o bico do melro, prosseguindo com actuações habilidosas, primando pela parcialidade descarada, ao ponto de ser um sério candidato ao “Apito d’Ouro Final”.
Estas suas premeditadas e bem executadas “desafinadelas caseiras” proporcionaram-lhe, paradoxalmente, a sua estreia nos grandes palcos internacionais.
A visibilidade e a “autoridade viciada” ganhas na “estranja”, reforçaram as suas arbitrariedades dentro de portas – por incrível que possa parecer, agora, nos palcos cá do burgo, refinou ainda mais a execução de partituras de uma nota só – a nota anti-gloriosa!
Um capricho de Trapacílio que tem caído bem no júri “Gato d’ouro” e sua “insuspeita trupe”.
Foi e tem sido um fartote!
Em 37 concertos, expulsou arbitrária e desavergonhadamente do palco 8 artistas de grande classe pertencentes à mesma orquestra – O Glorioso – que pelo seu grande talento, ao ofuscarem-no através de uma prestação artística soberba, provocaram em Trapacílio raiva e azia, e consequentemente, estas atitudes completamente vesgas e descabeladas, prejudicando gravemente este grupo musical.
Uma curiosidade, é que Trapacílio Babtista tem uma característica que vai aperfeiçoando ao longo da sua carreira profissional – a sua tendência irresistível de artista “apitador” está directamente relacionada com a sua fisiologia intestinal – “quanto mais apita, mais merda faz”. E como não sofre de obstipação é “sempre a aviar”!
Nos últimos 7 concertos, por exemplo, em vez de reconhecer o mérito da orquestra de O Glorioso, teve o desplante de a colocar “a pão e água”!
No último dos últimos, no “Teatro do Pessa”, Trapacílio, no seu melhor, actuando simultaneamente com a orquestra da “Belavista” conseguiu colocar a cereja no topo do bolo!
Depois de ter dado cabo dos instrumentos da orquestra de O Glorioso, ainda provocou um rombo nos cofres da referida instituição, ao evitar que ela se mantivesse em 2º lugar no ranking musical, contribuindo decisivamente para um prejuízo financeiro de 10 milhões, este ano, o que obviamente o coloca como o primeiro e principal delapidador da instituição. Para cúmulo dos cúmulos e por causa deste episódio a instituição ainda se vê privada do seu principal administrador nos próximos dois meses.
É obra!!!
Termino este “affaire” Trapacílio, “O Melro”, com uma história deliciosa dos meus tempos de infância, ocorrida na minha escola primária, quando frequentava a 3ª classe.
Tínhamos um professor cuja a alcunha era “O Melro” e que estava constantemente a escarrar para um lenço que tirava do bolso, alternando esta “higiénica” prática com mais um cigarro “português suave sem filtro”. De vez em quando, lá vinha ele, com aquele arranhar sonoro e anasalado, resultado do “puxanço” pelo fluído vindo das suas entranhas, e “brdu”! Já está!
Ele sabia que era o famigerado “Melro”. Sabia-o bem.
Na turma, havia um companheiro nosso, o “Gigas”, um respeitável matulão, que pela dificuldade de antanho, pobreza e obscurantismo, era repetente, tinha uma aversão total às letras e era o habitual escolhido para “bombo da festa” nas pedagógicas sovas com que exemplarmente o nosso professor nos brindava.
Em uma ocasião, pela manhãzinha, o professor, já depois de lhe ter malhado sem dó nem piedade, com mais umas palmatoadas da “comadre joana”, cachaços e tudo o mais, - até nós ficávamos doridos ao ver o professor bater tanto num rapaz bom - disse-lhe:
- Ó “Jagodes”, vê lá se dizes ao menos uma quadra que rime…, sei lá, sobre os pássaros…
E o Enorme “Gigas”, sim, ele que era e ainda hoje é duzentos por cento do “Enorme”, nesse dia ainda foi mais Enorme. Com uma Enorme Coragem, levantou-se ainda com as lágrimas de dor e humilhação provocadas pelo professor, comandante de batalhão da Legião Portuguesa, e atirou-lhe, também, sem dó nem piedade:
- “Professor, o melro canta nos pinhais…
Vai-te quilhar melro, não me batas mais!!!”
Num instante, como uma mola, toda a turma se levanta, e de pé, cheia de força…e de medo, brindou-o com uma salva de palmas extraordinária!
Inesquecível!
Foi um momento único, de revolta justa e legítima a abusos intoleráveis!
O professor caiu em si na cadeira da secretária junto à lareira da sala de aula e completamente derrotado exclamou:
- Hoje a aula acabou!
Nunca mais lhe bateu.
E o Enorme?
- Sim, Enorme, a Nossa Coragem está Contigo!
“Trapacílio, o melro canta nos pinhais…
Vai-te quilhar melro, não nos roubes mais!!!”
VAMOS TODOS LEVANTARMO-NOS E BATER PALMAS PARA TRAPACÍLIO BABTISTA NÃO APITAR MAIS!!!
NUNCA MAIS!
GRÃO VASCO