Com Nandú Ciara & Judy Rançosa,
Guilhermo Cagaia & Zeca Dias Diabo
O programa “O Dia Anterior” tinha terminado com mais uma participação dos “paineleiros” mais conhecidos da nossa praça – Guilhermo Cagaia, Nandú Ciara e Zeca Dias Diabo.
Como sempre, Nandú foi novamente derrotado por 2 a 1. Apressadamente, arrumava as suas cábulas, com aquele sorriso de “galináceo cacarejante” e com as mãozinhas a “dar a dar”, convencido de que tinha feito uma obra extraordinária em prol do seu clube.
À saída dos estúdios, Zeca Diabo e Guilhermo Cagaia, mais conhecido pelo “Vaselineiro da Cedofeita”, lá vinham, mais uma vez todos animados, de braço dado, com o Diabo a dizer para o outro:
- Ó Cagaia, o “gajo” não tem emenda. Está farto de levar no “toutiço” e ainda se ri. É cada sessão de gozo, que os apaniguados do clube dele ainda devem estar a perguntar como é que é possível fazer-se aquela triste figurinha na TV.
Tomara que no “Conselho dos Justiceiros” tivesse sido assim… – desabafou Cagaia, franzindo as sobrancelhas. E continuou, abanando a cabeça em sinal de derrota e frustração:
- Depois de eu me ter esforçado tanto para aplicar a minha táctica mortífera e subterrânea, a “analfabeta” da Trinidad meteu a boca no trombone antes do tempo e foi o que se viu! O Caranguejola e Cia. não gostaram da “marosca” e viraram as agulhas para o outro lado, deixando o Tógonça Mascambilha e o Bosta Andrade pendurados, de mãos a abanar, mesmo com o indisposto Mentes Silva a servir de “rolha”, esse “sempre em pé”!
Zeca Diabo, com aquele ar rasca, meio a sério, meio a gozar, consolava-o:
- Olha, era resultado que nem me aquecia nem me arrefecia. Tanto me fazia. Mas que foi realmente uma grande fatalidade para esses teus dois amigos, especialmente para o Tógonça, foi!...Mas deixa lá, porque qualquer dia, ele também te fazia a folha.
Guilhermo Cagaia estava sério e reforçando o que tinha dito, atirou:
- Fratelli! Capisci! Fratelli, Zeca Diabo!
Ó Cagaia, deixa-te lá disso das “societàs”, porque isso é com os teus amigos de lá de cima. Aqui, só está combinada esta aliança pontual, e se te portas mal, já sabes, estás habilitado a levar logo, também, umas traulitadas da minha parte. Portanto juízinho! E mais, põe-te fino, porque se não faço-te o que costumo fazer àqueles “vermelhos danados”, estrefego-te! – dizia Zeca Diabo arreganhando a barba.
“Tá bem, tá bem caramba”! Escusas de estar já a “escamar-te todo”! Realmente é verdade, que ao menos, aqui contigo, o resultado combinado não falha. Não há cá mas, nem meio mas. Tumba! Damos-lhe logo em cima! Ele não é da terra do Viriato? Então que lhe vá pedir ajuda. Pode ser que se safe! – rematou o Cagaia, aparentemente vibrando com a proeza.
Despediram-se até à próxima semana com um aperto de mão à chefes de estado e com pose para a fotografia dos repórteres dos jornais “O Nojo” e “Reco”. Os de “A Borla” não apareceram pois há que conter despesas pois as receitas com as vendas desceram. Uma opção é colocar o jornal nas bancas, de borla. A outra, vendê-lo à sociedade que detém “O Nojo”, pois é um jornal em que, como este, o número de andrades por metro quadrado é muito elevado e por isso torna-o muito apetitoso.
Bem, mas adiante, que se faz tarde.
Ciara não esperou por eles. Entrou no seu automóvel, ligou a ignição e pôs-se a andar. Na viagem para Cintra, sua terra por adopção, pensativo, reflectia sobre coisas da sua vida e dizia para os seus botões:
- Realmente as coisas não me têm corrido bem. Mas não posso dar parte de fraco. Tenho de permanecer “firme e hirto”, pois não há nada melhor do aqueles noventa minutinhos por semana. Tão ricos, tão riquinhos!
Já pareço um jogador de “top” com prémios de jogo à maneira! A chatice toda é que aceito tantos cargos que depois é “um deus nos acuda”!
Tive mesmo de me demitir de director do jornal “O Maior”, pois nem tempo tinha para escrever os editoriais e ir à redacção. Os leitores do jornal, perguntavam muitas vezes e com razão, se eu andava sempre a passear com a Judy pela “estranja”. Perguntavam mesmo se aquilo era só para o “penacho”. Bem, mas se aquilo nem sequer dava para o “petróleo”, o que é que queriam?
Estava quase a chegar a casa, já passava bem da meia-noite.
Preparava-se para mais uma “maratona” com a sua Judy, que no “apogeu dos quarenta” continuava com aquela “performance” dos seus tempos de debutante no jornalismo de televisão. E que “performance”!
Ela esperava-o ainda a pé, ocupada na elaboração do “questionário veneno” para a entrevista daí a dois dias com o “Barão Vermelho”.
Estava cansada de “puxar” pela sua cabecinha, pois o seu objectivo era poder desancar nessa famosa figura pública que a atormentava nos seus sonhos de “vivência fanaticamente andrade”. Vivência da qual não tinha pejo nenhum em exibir alguns “flashs”, à descarada, desde que se tratassem de adversários ou inimigos de Giorgio di Bufa.
Chegou a hora de dormir, mas a noite ainda era menina. Faltava o “doping afrodisíaco” para retemperar forças para os embates do dia seguinte e das grandes entrevistas.
Assim, já meio deitado na cama, sem óculos, repousando sobre as almofadas, com as mãos cruzadas atrás, na nuca, enrolando os polegares um no outro, para trás e para a frente e olhando para o vazio do tecto enquanto a sua querida acabava de limar mais uma vez as unhas, Nandu perguntava:
- Ó Ju, que tal a minha prestação de hoje? Gostaste?
Sim, gostei. Estiveste como sempre, nem bem, nem mal. Riste-te, mexeste bem as mãos, divagaste como de costume e pronto, foi o que eu vi e ouvi – disse ela desinteressadamente.
Mas sabes qual é a minha sensação? – perguntou ele, apreensivo.
Sensação? Ôh…lálá, querido, diz lá à tua Juju, diz – respondeu ela com uma voz baixinha e doce, chegando-se de mansinho.
É que voltei a perder por 2 a 1. O Zeca Diabo, aquele diabo, desempata sempre a favor do Cagaia – respondia Nandu, empinado.
E continuando, atirava, “afiando a dentuça” com um sorrizinho malandro:
- Mas uma coisa te digo já, ó Ju, hoje não quero perder mais nenhuma vez, ok, querida?
Ela, com o seu “sex-appeal” tentador, sorridente e pujante como sempre, emitiu um leve gemido, atirou com o estojo das unhas ao ar, deu duas voltas na cama e com um salto felino encaixou-se de tal forma nele, que parecia preparar-se para mais uma corrida de fundo no hipódromo de Ascot.
Ele, já prevendo o “furacão” que se avizinhava, começou a rir-se e quase “cacarejando”, disse:
Ó, ó Ju, não, não quero perder aquele tacho!
E mais, filha, olha que eu sou mesmo muito macho!
E Judy, já em “pulgas” com o “pré-aquecimento” disse-lhe:
- Ai é, Nandu querido? Tá bem tá!…
…Mas já sabes o que eu acho…
…Ju por cima, tu por baixo!
A luz, com tudo a rodar em “alta voltagem” apagou-se, com o par “engalfinhado” até à exaustão!
Por fim, Nandú Ciara adormeceu a sonhar que era um pássaro…
…talvez uma águia, sei lá…
GRÃO VASCO