quinta-feira, abril 23

AS AMÁSIAS

Ao entardecer, entre um mar fabuloso e um deslumbrante pôr-do-sol, a praia fervilhava de sensualidade e paixão. As respirações ofegantes de todos aqueles “bronzes”, faziam sentir-se ainda mais quando a leve brisa que agitava suavemente todo o palmeiral parava por breves instantes.
Nesse cenário ardente, Corrupta e Submissa, envolviam-se num tórrido “affaire” fazendo juras e promessas de amor eterno.
Essa praia idílica nordestina fora-lhes recomendada por Carlos Calhordas aquando da sua inesquecível e camuflada viagem de dez dias ao Recife e Rio de Janeiro – viajava então sob o nome de José Amor, seus segundos apelidos, confirmado pela factura da agência Kosmos, sua operadora, e paga em primeiríssima mão pela agremiação da Fruta Corrupção & Putedo - como reconhecimento dos seus “abnegados” préstimos com o apito, nas trapaceiras vitórias que aquela corja obtinha nos diversos torneios nacionais.
Toda a corja e toda a escumalha acompanhavam o dia-a-dia deste mediático “romance”, através de reportagens que surgiam em catadupa nas revistas côr-de-rosa.
Numa delas, viam-se ambas de mão dada, trocando prolongados abraços e beijos escaldantes, seguindo casualmente um trilho sulcado no areal por duas gémeas esculturais, cujos atributos quase que disparavam dos seus explosivos “bikinis” vermelhos. Por “coincidência”, este par tinha escolhido o mesmo programa de férias, na mesma agência, pagando o respectivo pacote de viagens em dinheiro vivo, retirado de envelopes contendo milhares de euros, oferecidos pelo seu padrinho comum, um tal de Giorgio.
A revista, para além das fotos desta cena trazia um texto, envolvendo um curto diálogo desses momentos, entre Corrupta e Submissa.
[Ao aperceber-se das gémeas, Corrupta, incomodada, exclamou:
- Não, não! Por aí não vou mais!
- Tens razão, Corrupta. Ainda nos podem acusar de assédio sexual e já bastam aquelas cenas todas em “Palermo”, com aquelas badalhocas das tuas ex-amigas, mais os cafézinhos, presentinhos, “fruta” e envelopes recheados à mistura. Pode ser que ainda encontremos as do teu amigo, o aposentado Paixão, dadas em parte incerta, mas que, de fonte segura regressaram às suas terras, aqui no Brasil. São caladinhas e fazem tudo! – respondeu a embevecida Submissa.
E acrescentou:
- Sabes bem o que eu tenho sido para ti. Uma companheira fiel ao longo de todos estes meses em que temos vivido uma união que por mais que digam que é sabuja e mentirosa, tem sido muito conveniente e lucrativa – disse ela com um sorriso malandro e debochado.
- Tenho mantido o silêncio, mas estou e estarei sempre a teu lado. Tu mereces, tens-me ajudado muito! Este ano já me deixaste ganhar uma final no início de época e já me permitiste ir a outra, de outro concurso, que só por meus pés estarem tortos e com grandes joanetes, e o Quinzinho do júri estar nos seus melhores dias, não consegui ganhá-la. Mas conto contigo para pelo menos assegurar o segundo lugar na competição máxima. Não te esqueças que eu preciso tanto de euros, como de pão para a boca! – rematou Submissa.
- Tá bem querida, tá bem, mas não te excites tanto, ok? – finalizou Corrupta com uma risadinha marota.]
Poder-se-ia pensar inicialmente que este episódio entre Corrupta e Submissa era lesbianismo de fino quilate. Mas não! Era sim, pornografia pura e dura.
Na verdade, era uma acção conspirativa ordinária, uma reles encenação, congeminada e datada dos tempos de Zé Rockett do Esporão, novamente retomada como uma armadilha, que bem montada e devidamente sustentada pelos “media”, acabaria de vez com um intruso – o Glorioso – que perturbava e de que maneira, esta relação complexa de cega ciumeira em que Corrupta não abdicava de ser o elemento dominante perante uma Submissa dócil e obediente.
Uma submissão cobarde e vergonhosa, numa relação falsa e promíscua, unicamente mantida por questões de conveniência financeira, com o objectivo de “limpar” o Glorioso, e que descredibilizava e desmascarava totalmente estas duas “víboras letais” do jet-set de “Palermo” e do bairro da “Merdaláxia”, na Lísbia, respectivamente.
A corja e a escumalha devoravam as fotos exclusivas e as descrições pormenorizadas do “flirt” mais badalado dos últimos tempos. Entre as provas, mais que suspeitas, estava um filme recente em que num camarote de uma casa de espectáculos de “Palermo”, as duas se entretinham numa troca de olhares suspeitos e em malandras gargalhadas, com Submissa a “travar” mais um “torpedo” cubano, envolta em densa fumaça, e Corrupta numa pose erótica a “esgalhar” também um torpedo, mas de proveniência intestina, com forma, odor, composição e som muito diferentes do outro vindo das arejadas plantações caribenhas. Nesse momento, terá porventura ocorrido a Corrupta, San Milagro de Comportela, local, onde hipocritamente “purificava” o seu corpo e sua mente perversa, desses maus odores e de outros bem mais suspeitos, consolada por falsa afilhada que depois de ser aclamada primeira dama pela populaça e pela pandilha de “Palermo”, acabou por ser tratada como reles puta de beco e de ocasião. Diz-se à boca cheia nessa cidade cristã da Galiza, que quando o santo milagreiro que lhe dá o nome, soube que tal personalidade se encontrava refugiada num “hostal” na parte velha do burgo, fugida à justiça do seu país e disfarçada de peregrino, pagador de promessas e jurador, caiu completamente desamparado do altar-mór da catedral abaixo. Ainda hoje se encontra em recuperação e restauro, tal foi o tombo.
No entanto, não deixavam de ser sinais cúmplices e evidentes de que em ambas, a intoxicação, o disfarce, as cortinas de fumo, as jogadas subterrâneas, as rasteiras e as bufas carregadas de metano eram armas mortíferas sempre apontadas ao Glorioso.
Para selar esta “santa aliança”, aterrou nos “merdia” da Lísbia, qual pára-quedista em queda livre e destrambelhada, um “abade” verde, deplorável, que meio vesgo, meio cego, desvairado, em luta pela sua religiosidade clubística, tão leonina como farisaica antigloriosa, já tinha a língua afiada para que Submissa rejeitasse sempre o Glorioso - estivesse este preocupado com ela ou não - lançando-lhe pragas sobre pragas. E como este aborto mental, apareceram muitos mais, reles parasitas e mabecos latindo desalmadamente, cuja prática era e é a submissão canina e total, ao poder de Corrupta, submissão essa bem mais escandalosa que a da própria Submissa.
O clímax desta ardilosa relação deu-se quando Corrupta e Submissa fizeram uma permuta inacreditável - trocaram de filhos. Ambos de sua graça, “Hélderes”. Pitosga seguiu para Norte e Postiça veio para o Sul.
Entretanto, nessa altura e nesse dia, atravessava eu uma rua movimentada da Lísbia, quando, qual não foi o meu espanto, vi sair de uma sessão vespertina de um cinema em frente, Giorgio di Bufa e Jameson Distillery em amena cavaqueira, mostrando-se alegres e sorridentes, certamente comentando as incidências do filme em cartaz.
Nesse momento, suspeitei afinal, de que todo o tropicalíssimo episódio de Corrupta e Submissa no país do samba poderia ter sido uma realidade transposta para a tela!
Nem de propósito, a confirmação veio logo a seguir.
Sobre Giorgio e Jameson, pendendo na vertical e na sua direcção, um cartaz gigantesco não enganava. O título do filme dizia tudo – “As Amásias”!

GRÃO VASCO