quinta-feira, dezembro 10

Eduardo Maus-Fígados

Para mim, seria incomparàvelmente mais aprazível escrever este post sobre Eduardo Mãos-de-Tesoura, mas atendendo “à conjuntura” fui obrigado a mudar de agulha e tive de dedicar estes momentos de escrita a outro Eduardo, o Eduardo Maus-Fígados, também ele um espécime único, mas com uma diferença – enquanto o Mãos-de-Tesoura as aproveitou para dar vida a um personagem de um filme com um profundo e comovente significado, Maus-Fígados utilizou-as desta vez, não para realizar com firmeza, “milagres” de bisturi e pelos quais todos nós lhe devemos estar gratos, mas para, incrìvelmente, pegar numa caneta e escrever um dos piores artigos de opinião de que há memória.

Ontem, pela manhã, ao ler o Glorioso Companheiro Vermelhovsky, fiquei curioso com o artigo de opinião no jornal A BOLA e que serviu de mote ao “post”, sempre oportuno, que o nosso prezado Companheiro aqui publicou. Tive de me dirigir propositadamente ao quiosque do qual sou cliente, para solicitar ao seu dono – um Benfiquista dos Autênticos – que me emprestasse a página do jornal desportivo onde vinha essa “pérola” de artigo. Abri o jornal no local indicado e li o artigo na íntegra.
Só uma palavra - INQUALIFICÁVEL!

Não conhecesse eu mìnimamente o “estatuto” e o percurso pessoal, profissional e social de Eduardo Barroso, quando li na edição de A BOLA de ontem o seu extenso artigo de opinião, e decerto que estaria a esta hora a confundi-lo com qualquer marginal leonino, em tudo igual àqueles que apedrejaram e molestaram Benfiquistas em Alcochete, no início do verão passado, ou mesmo os que recentemente devido à demissão polémica do treinador, causaram graves tumultos no seu estádio e alvejaram o autocarro do Benfica, aquando do jogo com o seu querido grémio leonino.
Ao ler esse rancoroso e destrambelhado artigo de um distinto profissional da Medicina, ocorreram-me por diversas vezes os saltos agarotados do seu líder clubístico quando cantou na sua vitória eleitoral que “quem não salta é lampião” e a cena surreal do seu companheiro de clube, Dias Ferreira, a ser enxovalhado e atirado aos trambolhões pelas escadas abaixo por correligionários seus.

Felizmente, o Benfica nunca foi isto que acabei de descrever, nem será o que Barroso desesperadamente desejaria que fosse.

Barroso revela neste artigo de opinião o seu lado mais cinzento da sua natureza humana. Revela a índole trauliteira do adepto bronco e grosseiro, carregando um intragável azedume e um ódio visceral contra uma Instituição, que por muitos motivos e sendo de outra área que não a sua, lhe deveria merecer o maior respeito e admiração.
Uma Instituição à qual pertencem, como ele próprio refere, pares seus de profissão, seus companheiros de trabalho do dia-a-dia e que “muito estima”.
Uma Instituição que por mérito próprio - talvez muito maior do que o seu - e das pessoas que a compõem, foi edificada e consolidada ao longo de mais de cem anos, que se guindou por direito próprio a um patamar único no desporto português e que desde os seus primórdios até hoje, e quiçá no futuro, se constituiu, constitui e constituirá sempre como um dos maiores símbolos de Portugal no mundo inteiro, expresso na sua Inigualável Diáspora.
Uma Instituição construída com o sangue, o suor e as lágrimas de um Povo anónimo, de Gente boa, que lutou e luta afincadamente pela sua Bandeira, pelo seu Lema, por um Ideal e que Barroso, filho da aristocracia, nunca quis nem quer entender e aceitar.
O sangue que tanta repugnância lhe faz numa parte metafórica do seu artigo, mas que sem ele não seria nada. É vermelha a sua côr. Inexoràvelmente. Ele nunca a poderá mudar para mais nenhuma. É o vermelho da solidariedade, da vida, da paixão, do calor, da sensualidade, do optimismo, do querer e do vencer!
É o sangue dessa Gente anónima, Gente do Povo, que às vezes, infortunadamente morre por essa enorme paixão que é “Ser do Benfica”, assim como muitos dos doentes hepáticos morrem sofrendo com a sua doença, mas que lutam, lutam sempre, sendo Benfiquistas ou não.
Esse sangue que Barroso não sabe, nem nunca saberá o seu significado profundo. O suor conhece-o, quanto mais não seja do seu próprio trabalho. As lágrimas, porventura também. Não só as dos dramas, alegrias, fracassos e sucessos que já presenciou ou viveu, como também as do maior drama da sua vida, que para ele é qualquer vitória do Benfica, mesmo que seja ao berlinde.
Só por isto, Eduardo Barroso deveria comportar-se com elevação e respeito em relação a uma Entidade que com certeza nunca lhe teceu o tipo de considerandos em relação à sua pessoa e ao seu trabalho, como aqueles que ele levou ao extremo no seu artigo repleto de um fanatismo cego. O fanatismo dos “anti”.

Barroso vive hoje num dilema inteligível, mas que não lhe confere nenhum direito de se lançar numa obsessiva inveja por quem também é um ganhador nato e incontestável numa outra área que não a sua.
O Benfica não tem concorrência, por mais que ele berre, esbraceje ou faça artigos de opinião inqualificáveis como o seu último naquele jornal desportivo.
Faz desse dilema um drama quase existencial, que vive intensamente de uma forma absurda e doentia. Ele com tanto sucesso na vida, ao contrário do seu querido grémio, que cada vez vai de mal a pior e o Benfica a transtornar-lhe o sono, perene e cheio de vitalidade. Por tudo isto tem recorrido aos seus “galões” mediáticos para fazer valer o seu sectarismo e a sua baixeza anti-Benfica nos jornais e nas televisões, acicatando a turba.
É na realidade um triste e deplorável artigo que me causou uma decepção profunda.
Descarregar a sua frustração clubística desta maneira, vociferando persecutòriamente contra o Benfica, revelou de uma forma inequívoca a sua natureza desportiva de incendiário, inadequada para quem no campo da Medicina e neste caso particular nos transplantes de fígado tem sido um homem brilhante, mas que futebolìsticamente, é dos adeptos mediáticos mais ordinários e reles que tenho visto. Para quem fala e diz que é pacífico, o que é que ele quer com o artigo que escreveu? Que lhe venham fazer alguma vénia?
Também lhe digo, Eduardo Barroso:
- Pelos seus bons fígados, deixe o Benfica em paz de uma vez por todas!

Uma história verídica

Durante muitos anos, a minha actividade profissional proporcionou-me um contacto muito assíduo com a classe médica.
Um dia, no hospital da minha santa terrinha, após o célebre jogo dos 6-3 de Alvalade e que garantiu praticamente o título ao Benfica, em amena cavaqueira com vários clínicos, levei de um deles, por coincidência cirurgião, lagartão e acérrimo anti-Benfiquista, em tom provocatório e inconveniente, um balázio em voz alta, totalmente despropositado, grosseiro e inesperado:
- Ó Grão Vasco, o Benfica é uma merda!
Fez-se silêncio, todo o mundo parou. Olhei para ele fixamente, como muitos dos seus colegas olharam, e disse-lhe num tom sereno mas firme:
- Até logo, Dr. Ao menos tenha um bom-dia de trabalho! É isso que de momento, sinceramente lhe desejo! Um bom-dia a todos.
Virei costas, sentido, humilhado, magoado por tão grosseiro dislate.
Após este lastimável episódio, passados uns poucos meses, por casualidade acompanhado do meu senhor Pai, encontrei-me novamente em trabalho com o referido médico, no seu serviço hospitalar. Cumprimentámo-nos, e surpreendentemente olhou para o meu Pai e exclamou:
- Sabe meu Caro, tenho no seu filho um verdadeiro Amigo. Aqui há tempos não reagiu a uma provocação minha da qual hoje me arrependo. Realmente nem ele nem o seu clube merecem a atitude que eu tive.
Outros colegas dele, presentes na altura, não se esqueceram dessa cena e disseram-lhe:
- Pois é, mas tu e o teu clube é que ficaram muito mal nessa fotografia. Um Benfiquista não precisou do teu “canudo”, nem do teu “estatuto”, para te ter dado uma grande lição.
Todos sorrimos e no final, já na despedida, esse cirurgião virou-se para mim, sem eu saber de nada e disse-me:
- Grão Vasco, tem aqui a requisição para umas análises que vai fazer já. Cá o espero ainda hoje, ao fim da tarde no bloco operatório, para uma pequena cirurgia, pois essa “coisita” que tem aí no seu lábio inferior, não está lá a fazer nada (eu, nesse tempo, fumava e tinha um hemangioma no lábio inferior). Só poderá, futuramente dar chatice da séria. Não quero que venha a ter problemas com a sua saúde por causa disso.
Fiquei estupefacto. Agradeci-lhe a cortesia e ele, chegou-se ao pé de mim, deu-me um grande abraço e simultaneamente sussurrou-me:
- Grande Amigo e Grande Benfiquista, só quero endereçar-lhe mais uma vez as minhas sinceras desculpas!
Só tive tempo de lhe dizer, com humor e em tom também baixo, mais uma pequena coisa:
- Ó Dr., já estou outra vez a ganhar, e…viva o Benfica!
Soltámos umas gargalhadas e despedimo-nos com um “até sempre”!

Nota: Sei de fonte segura, que esse clínico e os seus filhos, após esse fatídico jogo, na viagem de Lisboa até à nossa cidade choraram baba e ranho, digo bem, choraram, por essa sua desgraçada derrota. Nunca lhe fiz alusão a esse momento triste da sua vida, um momento de enorme alegria para Nós, Benfiquistas.
É assim, a vida!

GRÃO VASCO