quarta-feira, maio 20

CARTA A UM COMPANHEIRO BENFIQUISTA

Caro Companheiro,
Eu sei, eu sei.E sei bem qual é a sua perspectiva e "cultura".
Nessa perspectiva sairá sempre derrotado. E olhe que já falta pouco!
Já tive oportunidade de lhe dizer uma vez, que vivi em "Palermo" - hoje nem pronunciar o nome da cidade consigo - há trinta, trinta e quatro anos, e depois ainda fui para lá trabalhar durante um ano e meio, quase dois.Vivi a ascensão daquela corja e a tomada do poder, progressiva e com as purgas e ajustes de contas necessários, de norte para sul, ao longo destes últimos vinte e cinco anos, para se implementarem definitivamente. Umas vezes à força, outras com as manhas e ardis muito próprios da maioria daquela gentalha, e também, infelizmente, porque os Benfiquistas (já não digo a escumalha nossa vizinha) andaram a dormir aí por Lisboa à sombra dos louros conquistados, acomodados durante anos, continuando alguns a fazê-lo ainda hoje.
Lá, em "Palermo" a democracia é "um verbo de encher", cá, dos nossos lados, são "banhos e banhos" de democracia. Com "o verbo de encher" se vai ganhando, com "os banhos e banhos" se vai perdendo.
Sei que o Caro Companheiro vai empunhando aquela bandeira, que realmente devia ser aquela que deveria ondular bem alto. Mas não. Não se convença disso.
Sou da época da grande epopeia do Glorioso, em que cabouco a cabouco, durissimamente, se construiu um edifício, que dramaticamente, e digo-lho emocionado, tem vindo a definhar.
Por culpa própria?
Sim, por culpa própria.
Mas não julgue que atribuo isso prioritariamente aos erros de gestão, que foram danosos ao longo de alguns mandatos.
Sim, isso é verdade, mas está, para mim, no segundo plano. O que está à frente, a causa número um, é e foi a pouca audácia, coragem, sacrifício, paixão e esperteza que a partir de determinada altura nos faltou e ainda falta a Nós, Benfiquistas, para fazer face ao desgaste que sofremos, e mantermos em sentido em todas as frentes, aquela cambada de bastardos "andrades corruptos" que estavam e continuam a estar à frente daquele tenebroso grémio da Fruta Corrupção & Putedo. Hoje, bem substituídos por outros, na mesma linhagem reles, corrupta, ordinária, anti-Benfica, com um filtro que os escolhe com rigor, até à minúcia.
Ainda hoje ouvi dizer-lhes, num mano a mano fugaz que tive com um deles que - "só faltam sete, e que o meu filho mais novo antes de atingir a maioridade vai ver quem é o maior e o melhor porque o objectivo é esse mesmo - ultrapassarem-nos internamente, seja a que custo fôr!
Mas veja bem o alcance das palavras... e o descaramento obsessivo - "o meu filhote mais novo"!Vou contar-lhe o resto, pois aquilo a seguir foi logo a doer. Disse-lhe claramente que nunca envolveria nenhum filho meu num antro de corruptos. O meu filho seria e será orientado para ser um cidadão honrado. Acabou logo a conversa. É assim! O tratamento de choque resolve logo a desfaçatez com que se lançam as insinuações!
Não me leve a mal. Mas o Caro Companheiro está um pouco dissociado desta luta titânica. Sabe tão bem como eu que o Benfica, felizmente, não é só Lisboa. Em qualquer recanto de Portugal o Sr. vê um galhardete vermelho, uma bandeira com a Águia, um prato de barro com o emblema, algo genuinamente Benfica. Eu vivo na província. Como antigamente e ainda hoje é apelidado por muitos dos habitantes da capital, o Portugal para lá dessa grande metrópole e belíssima cidade que é Lisboa. Aqui sente-se o pulsar de uma Epopeia, de um Símbolo, de uma Bandeira que significa muito mais do que ir somente ao Estádio da Luz em dias de jogos de futebol e discutir o Benfica para cima e para baixo e detrás para diante e vice versa e depois rasgá-lo e devassá-lo como muitos fazem levianamente. Todos somos Benfiquistas, mas creia que nesta interioridade muitas vezes ainda profunda, com os seus sacrificados e penosos custos, e ainda com acessibilidades insuficientes, há uma Autenticidade pura, genuína, de uma sabedoria, um conhecimento e uma devoção inigualáveis, ímpares, pelo Glorioso.
Creia que essa passividade de algumas lideranças no nosso Glorioso - a todos os níveis - é que dói aos milhões de Benfiquistas espalhados pelo país e pelo mundo.
É preciso defendê-lo sempre, sempre, mas atacando a "besta" que o tenta por todos os meios definhar e degolar. Isto é o principal problema. Depois vamos aos outros, A independência financeira e a gestão de excelência.
Meu Caro, essas obsessões da gentalha de "Palermo", lá, e já noutros lados como aqui, onde vivo, invadem o mais comum dos cidadãos, importando-se lá eles - do "Giorgio" até ao "varredor dos passeios da Avenida dos Aliados" - que seja assim ou assado.
Sou daqueles que se levar uma bofetada respondo. Sem problemas.
Se continuarmos a dar a outra face, com paninhos quentes, com todo o absoluto respeito que tenho por Si, meu Caro, vamos ficar a ver a banda passar.
Não tenha dúvida, "eles" são seus inimigos, não são seus adversários.
Quando se fala em adversários ocorre-me a palavra lealdade.
- Quantas vezes é que eles foram leais para o Benfica?
- Zero!!!
Não tenha contemplações, não lhes perdoe, em lugar nenhum!
Quanto à "moeda" de que fala, o pagamento que lhes retribuirmos terá de ser sempre pior. Para essa cambada que tem como primeiro e exclusivo exemplo, o seu principal cabecilha, mentor de ilicitudes, ilegalidades e porcarias, e quejandos que lá gravitam à volta dele, só se pode responder pior, mas bem pior.
É a única maneira de os pôr novamente na linha.


GRÃO VASCO