sábado, julho 25

Coluna Vertebral


É natural que a esta hora já o saibam, faleceu ontem Rui Cartaxana, um dos últimos bastiões na defesa intransigente da verdade, sem medo de ameaças de apertos de mafiosos.

Sem muitas palavras para definir o Homem e Verdadeiro Jornalista que foi, e para que percebam como foi importante e não pactuava com subserviências e como era persona non grata na chafurdeira e na estrumeira que é actualmente o jornalismo em Portugal, remeto-vos apenas para isto:
  • Rui Cartaxana foi director do jornal record de 1986 a 1998 e, posteriormente, provedor dos leitores de 2005 a 2008;
  • Foi nessa mesma altura, quando Rui Cartaxana era o director, que a barreira de 100.000 exemplares de tiragem por edição foi ultrapassada;
  • Foi com Rui Cartaxana que o jornal record passou, primeiro, de trissemanário a quadrissemanário e, posteriormente, de quadrissemanário a jornal diário, tal como o conhecemos hoje;
  • Rui Cartaxana elevou o jornal record àquilo que entretanto hoje em dia já deixou de o ser.
Era de esperar, digo eu, que na hora da sua morte tudo isso fosse relevado no site do record e lhe fosse dado o merecido destaque. Mas não. Rui Cartaxana, ao contrário de (quase) toda a corja que "trabalha" naquele antro, era uma pessoa íntegra, com coluna vertebral e que preservava a verdade, doesse ela a quem doesse (*). E isso "não cabe" no jornal record actual. Tivesse Rui Cartaxana vergado as costas e lambesse as botas aos outros, como se faz no actual jornalismo subserviente em Portugal...

Desde a altura em que foi anunciada a sua morte, o destaque foi dado, primeiro, ao lançamento do jogo de pré-época Sunderland-Benfica e, agora, à consequente vitória do nosso Glorioso nesse mesmo jogo. Pois claro, até na hora da morte de uma das pessoas mais importantes na vida do jornal, o que interessa são as vendas (neste caso, os cliques). E aquilo que vende, como todos sabemos, é o Benfica. Então toca a reduzir a notícia da morte de Rui Cartaxana a uma "mera notícia" (e - digo eu - porque tinha de ser, "ficava mal se não se dissesse nada").
Bem vistas as coisas, admira-me é o destaque ser dado à vitória no jogo de Amesterdão e não a mais um qualquer nome, por eles inventado, prestes a assinar pelo nosso Glorioso.

(*) retirado do cantinho no jornal record a que remeteram a notícia:
"(...) Jornalista corajoso e frontal, defendia até ao fim as ideias em que acreditava, sem temer inimizades, nem se atemorizar com as consequências, justificando que se escreva hoje que, com o seu desaparecimento, se fechou um ciclo importante da vida de Record e que o jornalismo português perdeu uma das suas referências. (...)"

e, retirado, do CM, onde Rui Cartaxana também foi colunista:
"(...) Ricardo Tavares, actualmente no CM, fez parte da equipa de Cartaxana no desportivo. Lembra-o como um jornalista que "enfrentava os batoteiros, denunciava os casos que os cobardes escondiam. Dava notícias, mesmo que colocassem em causa o presidente sicrano ou o empresário beltrano. Por tudo isto, Rui Cartaxana, um jornalista de ‘J’, nunca precisou de tomar Alka-Seltzer". (...)"

Descansa em Paz, Rui, até qualquer dia. Nós, por aqui, ficamos cada vez mais entregues à bicharada, que é como quem diz, à cobardia dos jornalistas actuais da "nova vaga", os que gostam de branquear e de esconder a verdade.

João Gobern, agora és só tu aí nesse pasquim.

(escusado será dizer que, em contumil, a festa é enorme, basta ver o tipo de comentários com cheiro a merda em páginas como o sapo.pt, publico.pt, etc.)