domingo, março 22

ELEIÇÕES


1. Com o devido respeito, penso não ser hora de falar de eleições no Benfica. De falar em potenciais candidaturas ou programas e, muito menos, de avançar anúncios em concreto.
Pode-se a todo o tempo, naturalmente, tecer comentários muito genéricos sobre requisitos mínimos ou máximos de que se devem revestir futuras candidaturas e respectivos programas.
As referências concretas, quaisquer que sejam, é que me parece terem um tempo muito próprio, que não é este.
Acima de tudo, a hora é de união e concentração no objectivo ainda alcançável na época futebolística em curso. Não é tempo de desunião, dispersão e desperdício de energias. A desunião nunca proporcionou vitória.
Neste contexto, considero extemporâneo e desajustado o anúncio de uma candidatura concreta. Salvo melhor opinião, qualquer justificação apresentada será sempre de valorar subordinadamente à união Benfiquista, tão apelativa ela se apresenta no momento.
2. Mal ou bem – mal, na minha modesta opinião – o anúncio prematuro concretizou-se. E, nos termos em que se apresentou, ficou a pairar a ideia – perceptível, pelo menos, aos mais racionais e menos emotivos – de que o anúncio foi mais um ripostar, um ajuste de contas de menino mimado, um sentimento de revanche face ao desafio lançado em diversos e provocatórios comentários, muitas vezes desenquadrados da matéria em discussão.
O anúncio da candidatura pareceu, portanto, ficar a dever-se a uma emotividade espicaçada, a qual pode saciar o ego e a vaidade, na ânsia de demonstrar um “eu sou capaz” de aceitar o desafio. Pode, assim, ser considerada, não muito lisonjeiramente, perniciosa “a se”, apenas por se poder legitimamente pensar que a racionalidade de acto tão importante na vida de uma colectividade, com a dimensão e a vivência emotiva do substrato social que é a sua essência, andou completamente arredia da decisão.
Todavia, tendo-se avançado – e, naturalmente, tendo outros aspectos críticos a considerar – nada pode justificar os elogios ou as censuras de quem não tem a ver com o Benfica e, muito menos, a maledicência, o enxovalho e o insulto de quem se diz Benfiquista.
O Benfica é liberdade e democracia. Logo, também responsabilidade em dose semelhante. Então, critique-se, se essa for a vontade, elogiando, defendendo ou rejeitando. Aprecie-se e discuta-se programas, capacidades, competências e comportamentos.
Mas ressalve-se, em todas as situações, a pessoa humana. A ofensa não é parte construtiva de coisa nenhuma, não é, nem liberdade, nem democracia, nem responsabilidade.
A ofensa não dignifica ninguém e só rebaixa quem a profere.
3. A defesa do Benfica, do seu património social, cultural e desportivo, é o ponto fundamental de que se deve revestir um programo candidato a dirigir os seus destinos.
Desse programa deve fazer parte a sustentabilidade económico-financeira da Instituição, bem como a necessária coragem e audácia de colocar o Benfica na senda do triunfo sustentado e reiterado, no mínimo, proporcional à sua grandeza.
Tudo isto, sem pôr em causa a vertente económico-financeira, mas sempre, como me parece, imbuído do sentimento supremo de que o êxito desportivo está intimamente ligado ao êxito económico-financeiro, e vice-versa.
4. A boa execução do programa exige necessária capacidade e competência humana sem a qual o êxito é uma miragem e as boas intenções não passam da ilusão.
Pouco me importa que os candidatos e restante equipa sejam daqui ou dali, sejam velhos ou novos, ricos ou pobres, mais ou menos academicamente instruídos. O que têm de ser é Benfiquistas, competentes e com capacidades para o bom desempenho da sua nobre e mui difícil missão.
À partida, os parceiros de negócios também me são indiferentes, desde que confie em que os candidatos e sua respectiva equipa têm competência e capacidade para defender o Benfica. Porque, assim sendo, tenho de confiar em que eles farão os melhores negócios na defesa dos interesses que lhes compete defender. O Benfica tem uma vida, tem de se relacionar. Temos de partir do princípio de que os parceiros escolhidos, tendo sabido, naturalmente, também defender a sua dama, igualmente souberam respeitar a outra parte, isto é, o Benfica.
Nunca nos podemos esquecer de que, num qualquer negócio, há sempre, pelo menos, duas vontades de sinal contrário, mas coincidentes no ponto negocial.
5. Certamente que nunca apoiarei candidatos que se sintam agradecidos a determinados parceiros negociais porque, segundo eles, ajudaram o Benfica num momento económico-financeiro muito delicado.
Tais parceiros só se ajudaram a si próprios e a mais ninguém.
Ninguém pense que eles – ou quem quer que seja – foram ou são alguma instituição de caridade. Ganharam muitíssimo dinheiro à custa do negócio com o Benfica. Não obrigaram ninguém a concretizar os negócios, é certo, mas souberam aproveitar-se do estado de necessidade da outra parte.
Por isso, nem eu, nem, segundo me parece, qualquer Benfiquista tem que os venerar. Pelo contrário, só podemos agora ignorá-los porque eles não têm sabido, nos últimos tempos, respeitar a grandeza do Benfica. Defendem a sua dama, concordo, mas ao menos que não tentem boicotar, como boicotaram, que o Benfica defenda também a sua. É que, no boicote, ressalta a má fé desses parceiros, se ela alguma vez esteve ausente de suas mentes!
Mais contratos escandalosamente usurários, não posso defender nem apoiar quem os defenda.
6. Também nunca poderei apoiar candidatos que, na sua suposta crítica à gestão do Benfica, não encontrem um único elemento positivo. Ninguém é inteiramente bom! Mas também ninguém é inteiramente mau!
Nunca apoiarei candidatos que parecem profissionais do bota-abaixismo.
Nunca apoiarei candidatos que mistifiquem números ou realidades históricas na vã e efémera tentativa de justificar o injustificável.
De igual forma, me parece quase ridículo que um candidato qualquer lance publicamente um apelo para que outro candidato se não candidate. Não discuto a democraticidade do apelo. Mas parece-me evidente que esse candidato confessa à partida as suas fragilidades, o seu temor, a desconfiança nas suas capacidades, potencialidades e virtualidades.
Tal candidato, só por isso, deixa-me um sentimento profundo de incapacidade e inadequação para o bom desempenho do alto e difícil cargo a que se propõe.
7. A justificação, a minha justificação, obviamente, é muito simples. Quem proclama que deseja mudar algo, certamente que inculca nos destinatários da proclamação a ideia da novidade. Mudar para algo novo, romper com o satus quo ante.
No entretanto, o que tem sido expressa e abundantemente proclamado é algo de muito velho. Muito velho, não no tempo mas nas consequências potenciais das suas propostas. É um perigoso regresso ao passado. Mas um regresso a um passado ainda recente de que o Benfica se salvou por milagre.
E isso, em minha opinião, não interessa mesmo nada, nem aos Benfiquistas, nem ao Benfica.