sábado, novembro 15

OS BOBOS DA ARENA XXI

O jogo ia começar. Na tribuna, Jameson Philip Franco Distillery estava eufórico e orgulhoso. Tinha novamente a seu lado o seu comparsa preferencial destas lides, Giorgio di Bufa. Uma parelha impagável para uma noite impagável. Tanto foi assim, que foram poucos os que pagaram bilhete para ver aquele “carnaval” que depois se prolongou por vários dias.
Tinha chegado o segundo dia “L” desta época, o dia do “leão”, pensava Jameson. Após meses e meses de total subserviência e silêncio cúmplice, iria ter a oportunidade de poder ser compensado com um apuramento que significaria antes do mais um prémio pela bajulação, compadrio e promiscuidade demonstrados ao seu superior “amigo” Giorgio.
Por seu lado, Giorgio gozava alarvemente com a cena, continuando com a sua maquiavélica postura, arrebanhando mais um tanso para a sua temível teia.
Ao rejeitar a ética e a verdade, Jameson vergava-se mais uma vez, curvando-se reverentemente, qual servo perante o seu verdadeiro “padrinho”. Uma atitude vergonhosa que tem provocado desmotivação e tristeza de muitos apoiantes da sua agremiação, reflectida numa debandada geral dessa efectiva legião de adeptos, autêntico protesto silencioso que vem deixando as bancadas da Arena XXI progressivamente às moscas a cada jogo que passa. Uma lástima!
Na perspectiva de sequenciar o acordo tácito e de suposta conveniência - “ora agora ganhas tu, ora agora ganho eu” - lá estava ele de “termo tebe” branca vestida, trincando mais um “cohiba”, não se coibindo de gargalhar desbragadamente com Giorgio, “contando com o ovo no cu da galinha”. Nada mais errado. Uma perfeita ilusão!
Era um espectáculo humilhante, no mínimo. Quem desconhecesse a situação, diria que Giorgio parecia o dono do anfiteatro e Jameson seu lacaio, tal era a diferença na postura de um e de outro. Mas isto não era mais que a distância que vai de um capo a um seu esbirro. Pura e simplesmente isso!
Cá em baixo, na orla do relvado, as vozes dos donos - Dranquilo Bentoso e Juju-escova-dentes – agiam exactamente da mesma forma. Nada de brigas ou hostilidades nas palavras dirigidas um ao outro, não fossem os seus patrões ficar abespinhados e pô-los a mexer numa altura tão delicada para ambos. Manhosamente e contra o que é habitual, tinha sido assim durante toda a semana. Caladinhos que nem “ratos”, tudo mansinho, “pois não convém estragar o compadrio e não vá o diabo tecê-las”!

O jogo decorria num ambiente efervescente. Como este par de “orientadores técnicos” não podia desancar-se um ao outro, por motivos óbvios de estratégia concertada, o apitador, os bandeirinhas e o apitador de apoio foram os que mais sofreram as consequências dos disparatados e ordinários comportamentos de ambos. Dranquilo Bentoso como já é habitual, bufava sistematicamente nas orelhas do apitador de apoio e do bandeirinha do seu lado, complementado “exemplarmente” pelo “Zé Gomos” - um adjunto falhado de Juju, com este, falsa e pateticamente, de vez em quando a fazer gestos para o acalmar - completamente desvairado, gesticulando e vomitando ódio, querendo mostrar serviço ao “padrinho”. Em suma, uma demonstração para todos, da faceta habitual de quem adere caninamente às causas da corja corrupta e da escumalha submissa.
A coisa, até determinada altura, até tinha corrido bem para Jameson e suas hostes. Mas a desorientação e incompetência no campo foi de tal ordem que não conseguiram aguentar a vantagem.
O degradante espectáculo estava a terminar e a carga emocional não parava de crescer. O desafio iria ser resolvido através das penalidades, o que daria sempre a desculpa a qualquer orientador que perdesse, remetendo para outros a responsabilidade do insucesso. Acontecesse a Dranquilo ou a Juju, a questão, nesse pormenor, estaria resolvida. Quem pagaria a factura seria o apitador.
Ódios velhos e injustificados ressurgiriam novamente, sem apelo nem agravo.
Assim, o jogo terminou com um péssimo desfecho para Jameson e Dranquilo. Uma derrota, e zás, inapelavelmente eliminados!
Foi o fim!
Após prolongados momentos de anormal agitação e de turbulenta movimentação de todos os intervenientes, a conferência de imprensa ia começar e para conveniência dos dois grandes grupos dos “media”, cada qual afecto à sua cor, o alvo a abater já tinha sido escolhido há muito – o apitador. Uma “paixão” assolapada de ambos os emblemas que nunca deixou de ser bem demonstrada ao longo de épocas, por mais que muitas vezes tenham sido beneficiados pelo eleito! A “cowboyada “ habitual por estas bandas!
Uma “cowboyada” à “James Distillery, Giogio di Bufa & Cia”.
A “marabunta” de jornaleiros e quejandos apinhava-se na sala de imprensa sedenta de sangue!
Com Juju refastelado nos bastidores, mostrando ironicamente a sua horrível cremalheira, já “escovada” e “branqueada” depois da vitória, gozando alarvemente com a cena, Dranquilo Bentoso com o seu habitual ar de gaseado começou a disparar:
- Assim, como é que poderíamos ganhar? Nunca! Quando o “Fusil” “amandou” com as queixadas no cotovelo do “Lidl” e o apitador não viu, quando o “Ulque” “amandou” uma “cusada” no nosso guarda-redes e simulou a queda para “penalty” e na sequência da jogada o mesmo “Ulque” encostou violentamente a face no bico da chuteira do “Cananeira” provocando a sua expulsão e o apitador viu tudo ao contrário, quando este fez vista grossa ao cu de chumbo do “Rochabèque” que se cagou todo com a excessiva velocidade do “Ulque” e assim sofremos um golo, ou quando o “Habel” e o já mencionado “Rochabèque” se assustaram com os espirros do guarda-redes adversário e os peidos de Giorgio na tribuna, falhando as penalidades, como é que poderíamos vencer? Depois, nós é que somos incompetentes? Não! Quem é incompetente é um fulano que nem sequer devia apitar para o início do desafio!
Espero é que para a próxima vez que ele venha para aqui bufar no apito, que se “esgalhe” nele sem dó nem piedade! Isso é o que nós teremos de fazer! Já sei que vou ver o Sérgi Barbicha da APIFPAF, na televisão, a fazer aquela habitual figurinha de urso, mas isso pouco me importa. James Distillery e o grupo dos “Strumps” já me deram total apoio. Os “Strumps” estão comigo! Ah, grandes “Strumps”! Ah, grande Salgema Garçone!
Jameson, a um canto da sala, abanava afirmativamente com a cabeça. Realmente aquilo tudo não passava de uma verdadeira “paixão”.
Agora era a vez de Juju. Já sentado em frente aos microfones, com aquela cara de sério falsete, a roçar o trombalazanas enxofrado, atirou logo, pressionando estrategicamente o futuro apitador nomeado para o próximo jogo da sua equipa contra a de Ermílio Amassedo, o “mouro-novo”, fazendo a habitual e nojenta jogada muito própria da corja, que é a táctica da vitimização:
- Eu ganhei. Mas alguém, que não a minha equipa, fez com que o meu colega adversário e a sua equipa saíssem daqui derrotados.
Foi pena, porque este ano já não podemos redistribuir os títulos como na época passada! Realmente foi um péssimo concerto de apito. O apitador foi “enRolando”, “enRolando”, fez vista grossa à infracção, mas como digo, foi jogada que não teve influência no resultado. Até fomos para “penaltys”! E aquela cena, em que o nosso defesa, dentro da nossa área, com o braço e com o corpo, tendo como “alvo” a cara do “Habel”, fez nem mais nem menos e mais uma vez, uma demonstração de que o “kung fu” é uma nova técnica no futebol? Depois, não entendo como é que se penaliza um mergulho exemplar do “Ulque” que não queria forçar o “penalty”. Queria sim mostrar, porque é que os apitadores não marcam “penaltys” a nosso favor. Só isso. E isto de marcar “penaltys” é uma treta, porque o Parolo Babtista, no nosso jogo com os pescadores da lota marcou um penalty fantasma a nosso favor e perdemos, o Parolo Perera contra o Athletic, no ano passado, temendo a nossa eliminação, marcou outro penalty fantasma no último minuto do jogo, que falhámos, e mesmo assim fomos mandados borda fora, e assim sucessivamente. Um verdadeiro escândalo, com graves prejuízos para o nosso grupo de trabalho! Tem sido realmente uma lástima! Agora em tempo de crise, em que os cafézinhos e chocolatinhos estão com os stocks esgotados vai cá um jejum que só com umas gajas, à descarada, é que os apitadores lá vão! Mas para azar nosso, o querido colega que sabe desta poda está de molho e assim temos que viver com o que temos. Vamos lá ver se as off shores e a pressão que todas a semanas faço nas conferências de imprensa de antevisão dos jogos ainda dão para alguma coisa. Vamos ver…
Mas ganhámos…e bem! E isso é o que me interessa! Só para terminar, quero dizer-vos que o apitador prejudicou o nosso brilhante adversário nas penalidades. O nosso keeper-guitarrista mexeu-se sempre aquando de cada penalidade. Antes dos jogadores do nosso adversário chutarem na bola, ele já estava um metro, metro e meio à frente da linha de golo e por isso defendeu os “penaltys” que nos deram a vitória. O árbitro, sério como é, não repetiu as penalidades. Mas por outro lado, para que é que ele iria repetir os lances, se estas infracções não tiveram influência no resultado? E depois nunca mais saíamos dali, com o público cheio de frio e de sono! Só teriam influenciado se tivéssemos perdido e ficado eliminados. Assim não!
A conferência de imprensa terminou logo a seguir com tudo baralhado e desconcertado, tendo Jameson e Giorgio ido novamente às suas vidas, abraçados cegamente às suas “paixões”!
A corja corrupta e a escumalha submissa são assim. Sempre assim…numa corte e numa noite em que os bobos brilharam na Arena XXI!

GRÃO VASCO