segunda-feira, janeiro 11

O farsante, o assessor e o Cartola

- COISAS DO OUTRO MUNDO -

Trypalândia, Janeiro de 2010.
Mister, mister, estou-me a ir! – balbuciou Giorgio di Bufa, lacrimejando e soluçando perante uns painéis farisaicos evocativos do Cartola.
Fez-se silêncio. Este momento mediático, alvo de exaustivo estudo pelo seu assessor Ruy Porkeira e captado por diversas estações de televisão, foi interrompido por uma voz do Além, surgindo no ar, perpassando e aterrorizando toda a plateia composta pela habitual corja de alienados e saudosistas de aviário:
- Ah, ah, ah! És um farsante! Por tua causa já dei umas quinhentas voltas aqui em baixo, no caixote. Até os pregos rebentaram! Já oiço os crocodilos a reclamarem as lágrimas que lhes usurpaste! Lá o gajo da associação, vá que não vá. Agora tu? – ripostou aquela voz rouca e inconfundível.
A plateia ficou perplexa. Era o terrível Cartola!
Giorgio, ainda atordoado pelo impacto desta revelação, mal refeito do choque, avançou periclitante para nova investida:
- Mister, mister, quero dedicar-lhe…
- Queres dedicar-me o quê, seu hipócrita revisionista, que durante vinte e cinco anos, sem escrúpulos, apagaste o meu nome da história do Fruta Corrupção & Putedo – replicou imediatamente o Cartola, não deixando o seu patético interlocutor acabar a frase.
Di Bufa, nervoso pelo imprevisto da cena, limpava o suor da testa, ao mesmo tempo que disfarçadamente coçava os testículos e entesava as nádegas, tentando a todo o custo suster uma potencial assassina que revolvia as suas entranhas.
- Mas mister… - lá voltou Giorgio, quase em súplica.
- Qual mister, qual quê! Tu é que quiseste ser o mister. Desde as “quinhentolas”, passando pelas “calheiradas brasileiras”, conselhos matrimoniais e beatices prostituídas em SanMilagro de Comportela, até aos envelopes recheados, presentinhos e cafézinhos, tudo valeu para me tirares o título de campeão da corrupção, que eu tinha ganho com tanto suor e sacrifício. Ou já não te lembras da “massa” subtraída aos meus contratos e que eu desviava para “fornecer” os apitadeiros, para ganharmos os campeonatos? Ou não te lembras já, como é que eu “apertava” aqueles camelos? – atirava Cartola em tom irado e condenatório.
A camarilha corrupta presente na cerimónia estava aterrada.
Aquela tentativa patega de revivalismo saloio tinha-se, transformado logo de início, num pesadelo esotérico para Giorgio.
Ruy Porkeira, um dos mentores do evento, nem queria acreditar no que via e ouvia.
- É certo que no grémio ganho uma pipa de massa, mas isto é demais! Nós a homenagearmos o gajo, e o gajo do lado de lá, a mandar estas farpas ao patrão. Chiça! Parece mesmo uma coisa do outro mundo! – dizia ele com os seus botões, atrás da cortina, gesticulando na direcção de Giorgio, mandando em simultâneo murros com uma mão na palma da outra, incitando-o a avançar mais uma vez.
- Mas mister, é isso mesmo que eu lhe quero fazer. Homenageá-lo como campeão da trapaça e da corrupção, para ver se me safo, já que aquela putéfia daquela alternadeira fumadora, depois de me livrar dos maus cheiros, manhosa, enterrou-me na merda até às orelhas, divulgando os nossos segredos de alcova – lá se justificava Giorgio.
- Não sei se ainda vais a tempo. Mas quando chegares cá, conversaremos…- respondeu-lhe em tom mais calmo o Cartola.
E continuando, recomendou-lhe:
- Para já, como penitência, e já que a adopção é um tema actual, vais fazê-la em relação àquele que se proclama teu filho, um emplastro que costuma espreitar por cima do teu ombro. O Nando Maduro fica em suspenso porque hoje já fiquei farto de macacadas como as do Juju, essa alheira mediática. Cumprimentos e saudações xenófobas a essa cambada de cepos, morcões e lambedores. Depois logo se verá. Deixa-me cavar daqui para fora, antes que apareça aquele vermelhusco do Mário Pêra de Chibo. Vou mas é jogar uma “suecada” com o Pinto Voz de Falsete, o Brôxo e o Murais. Olha, e para terminar, manda-me meia-dúzia daqueles baralhos mágicos que eu comprava na feira da Vandoma, para fazer os meus truques, pois mangas ainda tenho.
Perante tamanho vexame, Giorgio, em louca paranóia, abreviou a cerimónia, chamou o seu motorista e disse-lhe:
- Alphonse, leva-me direitinho à Póvoa para fazer um check-up, não vá o diabo tecê-las, mas vê lá, não atropeles nenhum paparazzo como fizeste da outra vez à porta de um tribunal de Palermo!

Coisas do outro mundo!…

GRÃO VASCO