segunda-feira, junho 15

NOTAS SOLTAS

Benfica, a “rede globo” da nacional novelística

O Benfica é um clube imenso, cada vez mais Imenso! A cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo, tudo gira em volta do Sport Lisboa e Benfica. É o ganha-pão de todos quantos pululam em volta da informação e de todos quantos abastardam, batoteiam e corrompem o futebol português. Sem o Benfica morreriam de tédio e seriam uns esfarrapados e esquálidos famintos. Toda esta pandilha se entretém, em todos os segundos da sua existência, na magicação da novelística rasca, putrefacta e bolorenta sobre tudo o que ao Benfica possa dizer respeito. E mesmo quando não diz, mesmo quando já passados tantos anos, alguém que nem sequer é Benfiquista ou está, por qualquer meio, a ele ligado, é motivo de notícia, lá tem que vir ela encimada do título do Glorioso nome. Tanta ratazana faminta, alguma apenas cheia de corruptice batoteira.
Detenho-me hoje sobre a novelística em torno de Quique Flores.

Desde há dois meses para cá que todos os famintos se revezam e disputam nas suas dicas sobre a trama, enovelando-a consoante os seus apetites.
Tínhamos simultaneamente uns que escrevinhavam ou palravam, «Quique não quer ficar no Benfica», «valores de rescisão longe de serem consensuais», e outros, «acordo muito próximo ou já concluído».
Ou ainda, também em simultâneo, aqueles que noticiavam «Quique desde anteontem em Lisboa», «Quique em Espanha depois de regressar de férias», atribuindo ao pacato e simplório treinador o dom da ubiquidade.
Quantos aos valores da rescisão, estes também variavam à vontade do freguês de ocasião. Escrevia-se ou dizia-se, por exemplo, «acordo por menos de um milhão», «valores da rescisão a rondar os 2 milhões», «valores pagos de uma só vez», «valores pagos em prestações mensais tipo ordenado».
Um fartote de incongruência – para nós, claro – mas o cozinhado perfeito da congruência e da credibilidade dos realizadores de pechisbeque.
A seguir e concomitantemente, vem toda uma caterva de ditos comentadores e opinadores, os tocadores de trombone da novelística, comentar e opinar de entre o seu rol das deformidades que a coisa se arrastou demasiado, que andou para aqui e para ali sem rumo, que era sim ou sopas, o costume a que estes artistas nos habituaram.
Infelizmente, muitos Benfiquistas, alguns de boa-fé, outros porque é sua devoção falarem muito e mal do Benfica e das coisas do Benfica, sempre que a ocasião se propicia, e pouco ou nada terem feito em prol da sua grandeza, também fizeram o seu papel de figurantes.

Tudo isto se passa perante um cenário e uma recomendação crítica de que o clube não deve ser governado de fora para dentro. É uma recomendação feita, em especial, pelo rol dos famintos – da venda do seu peixe ou de alguma notoriedade – comentadores e opinadores. Tem por destinatários os dirigentes e os adeptos do Benfica.
Porém, coisa nada estranha e sempre vista, se o Benfica não deve ser governado de fora para dentro, pelos seus sócios e adeptos, deve todavia sê-lo pela caterva destes opinadores e comentadores, conforme aos seus mui sabichosos ensinamentos.
Todavia, os órgãos sociais que dirigem o Benfica não lhes fazem a vontade. É o clímax orgástico da sua carunchosa novelística. É ai que a coisa prolifera!
Todos os negócios têm o seu lugar e tempo certos. Nem mais nem menos um segundo, porque o que importa aos Benfiquistas é que os interesses do Benfica sejam salvaguardados ao máximo. Os interesses do Benfica, não os daquelas mentes noticiadoras e mui sabichonas conselheiras e recomendatórias, as mesmas que, com a cerviz bem dobrada, mui ao de leve palravam em Janeiro que Jesus era o futuro treinador do FC Porto e depois andaram meio ano sem se preocuparem com o arrastar da indefinição do futuro do professor Jesualdo. Chamaram-lhe tabu e ficaram de bem com a sua consciência e, já agora … com a sua espinha.
A sua credibilidade está bem patente nos seus escritos. Ela segue na próxima novela, tão igualzinha na rasquice às novelas precedentes.

Benfica e os apóstolos da democracia

Todos os órgãos sociais do Benfica decidiram demitir-se e provocar eleições antecipadas. Esta decisão teve de novo o condão de patentear a credibilidade dos noticiadores e comentadores da nossa praça e pôr fim à novela que os mesmos já ensaiavam há tempos e de que já haviam produzido os primeiros episódios.
Começou com o do jantar, normalíssimo e costumado, só notícia para quem tem falta de imaginação para a notícia e quer dar início ao enredo parolamente provinciano. Seguiu com os palpites sobre as aderências às suas teses de algibeira.
Noticiaram uns que Manuel Vilarinho se recusou demitir-se, sendo contra eleições antecipadas. De novo, simultaneamente, noticiaram outros que, afinal, era Walter Marques que recusara demitir-se e aceitar antecipar o acto eleitoral.

As novelas são assim, toscas e rascas, mergulhadas no fedor das suas contradições insanáveis e cujo guião ninguém compreende. No entanto, os espectadores não são espectadores da compreensão, são espectadores da exibição e da contemplação pasmaceira, por mais reles que estas sejam, de resto, numa harmonia combinatória com os guionistas.
A decisão final foi desastrosa. Desastrosa para os guionistas, quer porque lhes acabou prematuramente com os episódios sem final apropriado à sua tacanhez, quer porque mais uma vez lhes desmascarou a incompetência e a acanhada imaginação.
Afinal, todos quiseram eleições antecipadas!
Porém, se perdem os guionistas da notícia novelesca, ganham os comentaristas e opinadores, estes agora embrenhados nos seus sapientes conselhos sobre democracia. Sendo adeptos ou estando ao serviço de clubes que só viram democracia por um canudo, querem pacoviamente dar lições a um clube que só existe e é grande, o maior de todos, porque é democrático. Chegamos ao cúmulo do ridículo de ver um opinador bigorrilha, corrido ao pontapé e ao murro para não se candidatar, numa virginal e cintilante demonstração de democracia de um clube que nomeia os seus dirigentes, tentar dissertar sobre a democracia no Benfica. Nada de espantar, é coisa nada rara e muito vista!
De facto, como é que se pode denominar de antidemocrática uma decisão que está contemplada e consagrada nos estatutos do clube, estatutos esses que são a sua constituição, a génese da sua democracia?
Mas nem tudo se perde. Ficamos a saber que democrático deve ser um clube que faz eleições para os seus órgãos dirigentes de século a século e que a coaptação dos sábios é um acto da mais refinada democracia. Democrático será ainda um clube, um clube condenado por corrupção tentada, que não faz eleições mas propõe referendos ao poder instalado que, reza a História, a verdadeira não a inventada por esse clube, servem apenas para perpetuar no trono a monarquia imperialista que o governa, como é da praxe que, numa ditadura ou num império, mesmo que condenado por batotice o seu imperador, nunca descortinou um referendo perdido pelo poder referendário. São referendos em que um só um voto expresso a favor chega para os tornar vinculativos.

Os apóstolos da democracia vão ainda mais longe nos seus tresvarios. Pregam eles nos seus devaneios que a Direcção do Benfica não deve contratar jogadores e ou treinador para o seu futebol profissional, uma vez que, demitindo-se, ela se deve limitar à gestão corrente.
Contudo, o futebol profissional do Benfica é administrado pela Sport Lisboa e Benfica, Futebol SAD, sociedade que é gerida por um Conselho de Administração. E, tanto quanto se sabe, esse Conselho de Administração, ou qualquer dos seus Administradores, não se demitiu ou encontra demitido.
Por conseguinte, quer o Conselho de Administração da Sport Lisboa e Benfica, Futebol SAD, quer o Administrador com o pelouro do futebol profissional, conservam intactos todos os seus poderes até que se demitam ou sejam demitidos pelos seus accionistas.