quinta-feira, junho 4

DO MARÃO A PALERMO

OU
A TRISTE SAGA DE "GRÃO-DO-BICO"…
…MAIS CONHECIDO POR "GRÃO-DO-TASCO"



Há um bom par de anos, nas velhas e decadentes tabernas de “Palermo”, já se encontrava de tudo.
A fauna que por lá pululava, pela sua biodiversidade, fazia inveja às melhores reservas de animais selvagens dos parques naturais da planeta. Um submundo mesclado de álcool, subornos, droga, proxenetismo, delinquência, prostituição e muitas coisas mais.
No entanto, no meio desta selva, impulsionadas por um alienado com uma obsessão doentia - “Giorgio” - surgiram diversas estirpes de uma espécie aterradora, que logo proliferaram como cogumelos venenosos - andrades corruptos.
Aniquilaram e asfixiaram quase por completo todas as outras.
Axadrezados, salgueiristas e outros, eram mistura explosiva e incómoda quando em contacto com os andrades corruptos.
Estes, sem escrúpulos, usando de todas as manhas e máfias possíveis e imaginárias, ràpidamente os colocaram na lista de espécies em perigo de extinção.
Constantes zaragatas, mais sopapo, menos sopapo, constituíam cenas de pugilato amador, onde começavam a despontar “boxeurs” célebres de “Palermo” como Trelles Balboa e também alguns espécimes que se agregaram numa guarda pretoriana temida pelas entidades policiais, em que por várias vezes, em tom desafiador e provocatório, escoltaram “Giorgio” a tribunais e outros locais, afastando-o ostensivamente dos agentes da autoridade, como que “salvaguardando a sua integridade física”.
Um deles, useiro e vezeiro nestas refregas, autênticamente “cagado” no cume de um gigantesco penedo no alto do Marão, em dia de borrasca e no meio de um rebanho de cabras e bodes infestados pela “febre de malta”, tinha por alcunha “grão-do-tasco”. Veio para “Palermo” tentar “juntar letras”, mas imbuído de uma boçalidade confrangedora e incorrigível, depressa enveredou pela vadiagem, degenerando num perigoso delinquente. Ficou para sempre um analfabeto profundo. Calão ou calaceiro, a sua ferramenta de trabalho foi rapidamente substituída – lançou a caneta ao rio, para nas horas de “serviço” usar a naifa e outros instrumentos aferidos para pilhagens e outros ilícitos fins, adquiridos na feira da Vandoma. Nas horas vagas envolvia-se com a corja e dedicava-se ao grémio da Fruta Corrupção & Putedo. Subornou e chantageou árbitros. Envolveu-se em todo o tipo de prostituição, tinha fama duvidosa e por vezes lá apareciam os amigos da “onça” e outros invejosos malandrins a apelidá-lo de “grão-do-bico”. Dos rumores não se livrou, mas ficou-lhe o nome de “grão-do-tasco” pois tido e achado era na taberna, onde também ficou conhecido pelo “ tetra-bêbado”, dado que a média de borracheiras era de quatro por semana.
Presunçoso, quis imitar Nando Maduro na feitura de um livro sobre a sua vida e suas façanhas de fora-da-lei. Fez questão de que a sua história fosse contada em verso para poder ser declamada na apresentação, por “Giorgio”, no velho e clandestino palacete “imobiliário” da Sedofeita. Como curiosidade, aqui deixo a transcrição das suas primeiras quadras e do título do livro:

Eu sou o “grão-do-tasco”, um andrade corrupto!
Cagaram-me no Marão, desaguei em Contumil!


Filho de “porka”, badalhoca,
E dum sabujo cornúpeto,
Enxertei em corno de cabra,
Sou um aborto azul corrupto!

Em puto eu já marchava,
Atrás das moitas, no arvoredo,
E fui fazendo tudo, tudo,
Pela Fruta Corrupção & Putedo!

Sempre fui calão de tasca,
Cagaram-me “à la minuta”,
Fiz tirocínio de “panasca”,
E d’andrade filho da puta!

Sou paquete do pacote,
Do bandalho à gente fina,
Com “Giorgio” é um fartote,
Peço meças à Creolina!

Vim do alto do Marão,
Meu nome é “grão-do-tasco”,
Abri o meu “porko” bojão,
Ao pincel do tal GRÃO VASCO!

Mas quando GRÃO VASCO me viu,
Da tólinha tão enfermo,
Mandou-me um chuto no cu,
E devolveu-me a “Palermo”!

“Apalermado” eu fiquei,
Quando ele ‘inda’ se riu,
Dizendo-me co’as letras todas,
Vai pr’á puta que te pariu!

A “Palermo” voltei grunhindo,
Enganei-me, fui pró canil,
Não me quiseram, era um “porko”,
Despejaram-me em Contumil!

Já com fezes pelo queixo,
E com a cabeça tão lerda,
Cheguei à triste conclusão,
Sou de um clube de merda!


Sou “grão-do-tasco”, do grémio da Fruta Corrupção & Putedo. Sou mais um malandrão andrade corrupto que aqui vem grunhir e dar-se a conhecer…

Claro que, perante a triste ocorrência descrita na última quadra, a edição foi suspensa e a sua triste saga terminou mesmo em Contumil, com "grão-do-tasco" atulhado da dita cuja até ao pescoço!


GRÃO VASCO