segunda-feira, setembro 29

DE QUE CLUBE QUERES SER?

EU SOU DO BENFICA!


Quarta-feira, 31 de Maio de 1961.
Recordo-me, como se fosse hoje, ainda muito pequeno, garoto de seis anos, de um fim de tarde solarengo, fantástico e inesquecível! Pela mão de meu Pai, atravessei o frondoso Rossio da minha bela cidade, onde felizmente vivo e respiro um ar ainda muito saudável. Dirigíamos-nos a um célebre e mítico café dos anos sessenta – o Café-Restaurante Rossio – para ver pela televisão, a primeira final do Benfica na Taça dos Campeões Europeus contra o Barcelona.
Nessa altura os grandes colossos do futebol na Europa eram o Barcelona e o Real Madrid!
Havia muito poucos televisores. Nesses tempos difíceis era um luxo.
Lembro-me de um salão repleto de pessoas com os olhos postos num ecrã de um pequeno televisor, vibrando com um jogo extraordinário, transmitido a preto e branco, com algumas interrupções pelo meio e sempre com as interferências próprias de um directo de Berna, na Suíça, lá longe, numa altura em que a tecnologia da TV estava a dar os primeiros passos.
Mesmo com aquela tenra idade, de que tenho tantas saudades, eu já sabia bem que estavam em campo os “papoilas saltitantes”, e que mesmo a preto e branco, distingui inequivocamente o vermelho das suas camisolas. O vermelho das camisolas dos jogadores do Benfica e do meu querido Clube!
Lembro-me de um amontoado de cabeças a exultar com os golos e no fim uma completa loucura!
Não foi por acaso e nada me fez confusão!
Cantei vitória, levaram-me ao colo, gritando Benfica! Benfica! Benfica!
Vi bandeiras de Portugal e do Benfica no ar, um desfile extraordinário na Rua Formosa, pessoas cantando. Uma alegria imensa, uma multidão imensa, uma chama imensa!!!
Fiquei tão contente, tão contente, que sendo do Benfica, fiquei mais Benfica, com orgulho e com vaidade!
Não foi por acaso!
Mesmo no tempo em que o Benfica foi durante alguns anos “o primeiro colosso europeu”, mesmo aí, experimentei a amargura da derrota. Com serenidade, com reflexão. Mas foi aí, também, que aprendi a ser e a gostar mais do Benfica. Com mais orgulho! Isso envaideceu-me, no bom sentido da palavra, claro!
Nada foi por acaso!

Nessa altura, a vaidade, era a vaidade de Ser do Benfica!
Não era a vaidade de hoje, a vaidade de criticar e achincalhar o Benfica e em sê-lo por conveniência!
Quais vaidades pessoais, quais críticas avulsas a presidentes e direcções, quais análises transcendentais a treinadores, quais vaias aos jogadores!
Não!
Eram sim, a garra, o empenho, a determinação, o espírito de sacrifício, a vontade indómita de vencer, exemplarmente gravados na edificação daquela obra belíssima e extraordinária que foi o primeiro Estádio da Luz!
A força, o querer de toda a gente anónima Do Benfica, que demonstrou a verdadeira dimensão do Homem!
E será que é atirando sistematicamente pedras a quem labora para que o futuro seja melhor, para restaurar um palmarés inigualável, continuá-lo, e repor o Benfica no topo, que todos nós conseguiremos almejar as metas que desejamos?
Será que é com jornalistas, “paineleiros” e comentadores da estirpe que temos, que se dizem adeptos do clube, que ainda ganham à conta do Benfica, que zurzem constantemente no Clube, que ganharemos vantagem?
Será que é com individualidades que se dizem adeptas do Clube, e que têm a desfaçatez de o achincalhar, só para agradar aos seus amos e senhores?
Também é verdade que o Benfica tem uma dimensão tão grande, tão grande, que consegue albergar adeptos menores, confusos e mesquinhos como, muitos dos que pululam hoje por todo o lado.
Mas a massa verdadeira, a massa anónima, está viva, presente! Está cá! São todos aqueles iguais aos que estiveram na Mata Real, num 4 a 3 emocionante, a gritar, a puxar, a apoiar, a incitar, a vibrar, não se cansando de cantar Benfica, Benfica, Benfica!
Sim, esses são os AUTÊNTICOS, OS VERDADEIROS!
Honra e Glória a esses anónimos, a esses incondicionais que com muitos sacríficios, sem medo e com um amor imenso ao Benfica, vão a todas, dando o peito às balas!
Não aqueles que ao menor sinal de derrota, assobiam, vaiam, criticam, e para cúmulos dos cúmulos vão dar palmadinhas nas costas dum inimigo que os desonra, que os vexa, que os goza, que os humilha!
Mesmo no espaço “Internet” este triste fenómeno é evidente e com autores bem qualificados e de pressuposta projecção nas suas áreas profissionais!
Mas já é altura de separar o trigo do joio!
E não me venham com “liberdades de opinião”, com “espíritos democráticos”, com “direitos às diferenças”, com “o não primarismo”, “maioridades intelectuais” ou “lucidez de raciocínio”!
Tudo isso é uma grande treta, quando está em causa um aspecto fundamental que muitos daqueles que se dizem benfiquistas, esquecem, e que para eles pouco importa – GANHAR!
E ganhar não é criticar. Não é o constante e premeditado dilema por conveniência, de dar um elogio e depois carregar no botão do “bota-abaixo”!
É JOGAR! Cá fora e lá dentro, na luta, e lado a lado com os jogadores, com os técnicos, com os dirigentes, com os presidentes! Com os braços encaixados uns nos outros, com uma postura igual à dos jogadores e responsáveis pela equipa aquando da marcação das séries de penalidades decisivas para apuramentos ou vitórias em competições!
Muitos daqueles que hoje falam de cátedra e se dizem benfiquistas, e que criticam obstinadamente o Benfica em todos os seus sectores e das mais variadas formas, demonstram um egocentrismo prejudicialíssimo ao Benfica. Cantam umas loas para disfarçar, e imediatamente, para mostrar a sua “independência” e “isenção” no mínimo ridículas, ferram o aguilhão de uma forma tão profunda que colocam sempre o Benfica a sangrar, assistindo-se quase a uma auto-flagelação doentia e masoquista, com os habituais mabecos da “quinta coluna” a bater palmas e a dizer, “mata e esfola”!
Essas pessoas que se dizem benfiquistas não servem ao Clube.
Tenho o direito e a frontalidade de o dizer alto e bom som.
Essas pessoas NÃO SERVEM o BENFICA!
Valem-se do Benfica para se auto-promoverem e colherem todas as benesses possíveis e imaginárias. E é bem preciso que os Benfiquistas estejam atentos e os identifiquem. Muitas vezes camuflados de cordeirinhos, usando uma dialéctica estafada, só lucrativa na abordagem aos incautos!
É preciso que os que SÃO DO BENFICA estejam bem atentos!
“Eu, porque sou diferente, porque não alinho com a “carneirada”, porque sou isto e mais aquilo, “porque sou um intelectual da fina flor do entulho”, tenho todo o direito de ter a minha opinião, blá, blá, blá, blá, blá e “pardais ao ninho”.
Estou farto, fartíssimo de ler, e constantemente, este tipo de lenga lenga de muitos benfiquistas “novos” que não sabem e nunca
souberam o que é que significa verdadeiramente a palavra GANHAR, e que dizem que o são porque o seu avô, ou tio, ou o padrinho, ou sei eu lá o quê, são e foram!
Se o soubessem, hoje mesmo alterariam conceitos e comportamentos que tem muitas vezes arrasado com o Benfica!

E naquele final de tarde quando meu Pai chegou a casa um pouco mais cedo e me disse:
- Veste-te e calça-te. Vens comigo!
Eu sabia que era algo muito importante!
E já a meio do caminho, com ambos concentrados e silenciosos, eu tranquila e confiadamente perguntei:
Meu Pai, para onde vamos?
- Já vais ver.
Muito compenetrado, olhando o horizonte, perguntou logo a seguir:
- De que clube queres ser, meu filho?
- Meu Pai, o meu Pai sabe muito bem. EU SOU DO BENFICA, aqui do lado do MEU CORAÇÃO!
Ao que o meu Pai, também serenamente, mas muito sério me respondeu:
- Meu filho, vais ver aquilo que nunca viste e que ficará para sempre na tua memória. O Benfica vai ser Campeão Europeu, vais ver na televisão. E o Cavém, o Coluna e o Águas vão encher-nos de orgulho!

SOU E SEREI INCONDICIONAL E ETERNAMENTE DO BENFICA!!!

GRÃO VASCO