sexta-feira, março 27

O ELOGIO DA PEITAÇA DISCÓBOLA

Récita de Pedro Silva aos mandaretes e aos esbirros


Lisonjeou-me a ideia de que a minha pilhéria pudesse merecer tanta aprovação!

Pelo conhecimento que tenho destes mandaretes dos destinos de alguns clubes e dos esbirros da cor que campeiam nos media do futebolzinho tuga, divertimentos tão superficiais, não me parecendo grosseiros nem de todo insulsos, estavam longe de me fazer crer pudessem deleitar, tão ridicularizantes eles se me apresentaram aos próprios olhos.

Consequentemente, estou em crer que tais mandaretes e esbirros gostarão também de aceitar esta minha arenga, como um bom presente deste vosso amigo. É de prever, naturalmente, que não faltarão detractores para se insurgir contra ela, acusando-a de frivolidade indigna de um peitudo e excelso lançador da medalhística discóbola, tanto mais que vossas mercês souberam perdoar e até incentivar a minha peitaça lucilíaca, mostrando que eu sou um homem e que sei lançar o disco da minha vergonha.

Realmente, haverá maior injustiça do que, sendo permitido e não tolhido um lançamento de fino recorte estilístico e uma peitaça invisível ao tomador, quererem alguns pindéricos exorcizar uma pequena brincadeira adequada à minha idade e condição, não podendo eu agora pilheriar, em especial, tendo esta pilhéria um fundo de seriedade, imbecilidade e imanência?


Não foi assim, de facto, que a interpretastes porque, solenemente o digo, não sois uns bobalhões, mas tendes algum faro e nela encontrastes mais proveito do que em profundos e luminosos temas sociais e políticos de que tanto precisa o vosso pobre país tuga.


Depois do meu mea culpa que vós condenastes às purgas do inferno, esta minha tagarelice poderia parecer uma loucura.

Talvez tenhais um pouco de razão e não me imputeis qualquer resquício de sarcasmo. Poderia, quando muito, ser uma expressão de liberdade de estilo. É que, sem estar louco de todo, penso ser uma loucura atribuírem-me o título de melhor jogador do futebolzinho marosca que disputei.

Não, caros mandaretes e esbirros, a trafulhice informática na votação é o hino da nossa loucura!

Mas quem fica com o título de melhor lançador de medalhística?

E o da melhor peitaça que vós tanto tendes gabado?

Perdoem a minha teimosia, mas esses títulos, sim, seriam apesar do resto o melhor elogio e o mais pomposo incentivo!


Mas não sou cínico. Aceito de bom grado todo o vosso elogio e o vosso incentivo. Se alguém houver que se sinta ofendido, deverá investigar as suas próprias deficiências e não tornar-se suspeito da soberba e da inveja.


É certo que os vossos elogios e incentivos à minha magnificente e instrutiva actuação peitoral e à minha lançadura medalhística se limitaram a mostrar o que me parece de mais ridículo. E vós mergulhastes na cloaca dos vícios humanos e revelastes as torpezas e infâmias que aprendestes com os vossos ídolos mais a norte.

Todavia, nem assim conseguistes calar todos os rezingueiros e descontentes.


Embora os Lucílios saibam ferir a minha reputação, o meu nome só soa mal aos ouvidos dos atoleimados pacóvios. A prova disso são os vossos elogios e incentivos. Desde que revirei os olhos e vos vi repimpados de caderno e lápis na mão, ou olhos na câmara e microfone em riste, uma súbita e desusada alegria brilhou no meu rosto louco e no de todos vós.

Que bom é estarmos assim perante um grande auditório!

Que júbilo louco atravessou este meu rosto, quando vós erguestes a fronte, tão satisfeitos e orgulhosos da minha loucura!

Que indizível regozijo foi ver quão prazenteiro e amável foi o vosso sorriso de aclamação!

Vós que antes estivestes tão tristes, soturnos e inquietos, sem sopa e mosca que nela caísse!


Vós, caros mandaretes e esbirros, tivestes a gentileza de me prestar atenção!

Não a atenção que costumais prestar aos imbecis e aos bobos inofensivos como aquele Vucevic que precisa de puxar os calções ao adversário e afastá-lo da arena para podermos marcar o nosso golito!

Mas a atenção que costumais prestar aos charlatães, aos intrujões, aos corruptos e aos condenados pela batotice desportiva!


E sabei, caros esbirros da SIC que há muito vos perdoei as primícias da vossa loucura. Não foi bonito afirmarem tão convictamente que eu tinha jogado a bola com a mão. Com a mão, só a medalhística tenho artes de lançar!

Bem hajam, pois, todos vós, mandaretes e esbirros, pelos vossos elogios e pelos vossos incentivos!

Convosco e com o vosso estímulo, incensaremos eternamente a nossa gratífica Loucura!