quinta-feira, março 5

GIORGIO e o POLÍGRAFO

Inevitavelmente mais tarde ou mais cedo, este episódio iria acontecer.
O polígrafo tinha acabado de receber uma proposta de trabalho, mas para estupefacção dos mais incautos, recusou-a liminarmente.
Seria possível recusar semelhante proposta, envolvendo a agremiação da Fruta, Corrupção & Putedo e protagonizada por Giorgio di Bufa?
O polígrafo, através de uma tarjeta digital incluída na própria máquina disse claramente que não se sujeitaria a tão arriscado teste.
Nesta fase, em que uma acareação crucial de Giorgio estava iminente, pressupunha-se que o polígrafo fosse entrar em acção, mas este, em pânico, aterrorizado e logo ameaçado pelos gangs ribeirinhos, negou sujeitar-se ao teste, evitando assim ser humilhado no seu funcionamento.
E isto, porquê?
Porque o polígrafo, ao fazer a retrospectiva do percurso de Giorgio ao longo dos últimos trinta anos, teve logo a certeza da sua infalibilidade viciada, não tivesse ele dado aquele sacrílego nó cego no Papa e na Santa, não tivesse ele ganho todos os processos ou saído ilibado deles, não obstante a sua evidentíssima participação em todas as mascambilhas.
Como poderia um simples polígrafo enfrentar um suspeito que teve sempre o apoio tácito e a vergonhosa cobertura de generais, juízes, autarcas, grandes empresários, financeiros, políticos e advogados de “Palermo”?
Como poderia o polígrafo trabalhar serenamente e em segurança quando era alvo de ameaças constantes e de preocupantes sinais dados pelos criminosos, marginais, vigaristas, proxenetas, putas e patifes de “Palermo”?
Como poderia o polígrafo ordenar metodicamente os factos, se toda a espécie de jogadas sujas e subterrâneas foram feitas, para que um elemento fundamental – as escutas telefónicas – fosse sempre posto em causa como elemento de prova de todo aquele chorrilho de actividades corruptoras e corruptas?
Como poderia o polígrafo processar os dados completos, se muitos magistrados, testemunhas incómodas e arguidos se encontram convenientemente controlados, manietados e premeditadamente instruídos, para serem dados em parte incerta ou como doentes, e outros ameaçadoramente silenciados?
Depois deste vexame, e após ter levado um “mosquete” num dos seus parietais e ter sido apelidado de “brochista”, porco e badalhoco, na presença cúmplice e complacente das autoridades policiais, o polígrafo, descontrolado, avariou-se irremediavelmente!
É um paradoxo, mas é verdade. O polígrafo iria ser testado por Giorgio e não o contrário, como seria expectável!
Ah! Ganda “Palermo”!
Giorgio continuou e continuará impune.
A bandalheira do costume.

GRÃO VASCO