quinta-feira, novembro 15

Os 1000 roubos do snr. da casa iluminada


"Mil. Festejam eles. Mil enganos. Mil cenas macabras. Mil histórias tristes. 

A memória já não abarca todas, tantas que são. 

Jornalistas espancados. Quantos foram? Uns à porta de casa, outro à saída do Estádio Mário Duarte em Aveiro (e era o mestre dos mestres!), outro no Estádio do Restelo, ainda mais um em directo na TV em pleno relvado das Antas... 

E mais? Um fotógrafo atropelado! Até as fotografias incomodam quem gosta de viver na escuridão, não é? 

Viagens oferecidas a árbitros com destino de Brasil. Um árbitro perseguido por uma equipa quase inteira para vergonha de quem ainda hoje assiste àquelas imagens sinistras. 

Árbitros intimidados, agredidos à força de peitadas por jogadores inimputáveis. 

Árbitros escolhidos a dedo com o compadrio dos patrões da arbitragem para forjarem vitórias bufas, resultados martelados, conquistas sem valor... 

Um árbitro convidado para um café e um envelopezinho recheado numa casa obscura, da Madalena na véspera do jogo no qual deveria ser absolutamente imparcial. 

E quantos mais por lá passaram, com café e envelope? Tantos certamente...

Jogadores insubmissos ameaçados com tiros nos joelhos. 

Treinadores insultados e com os seus carros destruídos. 

Prostitutas entregues a domicílio, em quartos de hotéis nos quais pernoitam juízes de linha. Quem as paga? 

A conta apresenta-se lá no alto da torre e arquiva-se como despesa de refeição. 

Árbitros estrangeiros refastelam-se nas marisqueiras de Matosinhos garantindo finais europeias. 

Mais envelopes. Mais trabalho para a contabilidade da torre das Antas... 

Do alto dos viadutos chovem sacos com pedras de calçada sobre viaturas inocentes. Tentativas de homicídio também valem. 

Das bancadas chovem pedras e bolas de golfe. Ninguém liga. É assim a vida e a lei a oeste de Pecos: não há vida nem lei. Ufa! Tanta porcaria.
"


Por Afonso de Melo, jornal 'O Benfica', 9 de Novembro de 2012