quarta-feira, setembro 9

O 9 de SETEMBRO de 1992

O CIRCO DE “PALERMO”

Coimbra, 9 de Setembro de 1992.
Uma 4ª feira especial de futebol.
Final de uma tarde quente de verão.
No estádio municipal daquela cidade, com os ânimos ao rubro, José Pratas, o árbitro da finalíssima da Supertaça entre o Benfica e o grémio da corrupção, acabava de validar honestamente o golo do Benfica por Isaías, aos 75 minutos de jogo. Legal e limpo.
Indiscutível!
Eis que, de imediato, completamente desvairados, os jogadores do grupo adversário, os do grémio da corrupção, numa explosão de raiva e ódio, se lançaram no encalço de José Pratas - uma táctica e um comportamento induzidos, bem identificados com o dito grémio, que cobardemente passaram impunes ao longo de mais de vinte anos; ainda hoje se observam evidentes resquícios deste tipo de acções em alguns protagonistas que por lá chafurdam e que continuam a ser uma das suas habituais imagens de marca.
Apavorado, o árbitro, tentando fugir, recuava cada vez mais.
Ficou para sempre gravada na minha memória a maior e a mais longa marcha-atrás alguma vez encetada por um árbitro, num relvado de um estádio de futebol. A manobra começou na grande área dos corruptos e estacou por instantes no meio campo do Benfica. Numa imparável atitude intimidatória, selvática e ameaçadora, a matilha furibunda e ululante continuou, animalesca e implacàvelmente numa perseguição a Pratas, coagindo-o cada vez mais, oferecendo aos milhares de portugueses que acompanhavam o jogo no estádio e pela TV, um espectáculo absolutamente degradante só comparável a um circo romano.
O árbitro, completamente aterrorizado, continuou a correr pelo campo fora, acossado por essa turba de energúmenos, que num desvario total tentava que ele alterasse a decisão e invalidasse o golo do Benfica. Aguentou-se como pôde, mas ficou a saber que a partir daí quem mandava no jogo era a terrífica matilha.

Uma caricatura tosca e aberrante, mas real, um circo brutal à moda de “Palermo”, fazendo lembrar uma cena de um filme épico da Roma Antiga. Só tinham mudado os personagens. Salvo as devidas proporções no espaço e no tempo, recordei os espectáculos sanguinários do Circo de Roma, no seu célebre Coliseu, em que, para gáudio de uma horda mentecapta e doentiamente delirante, imperadores como Nero, Calígula e outros césares corruptos e alienados, através dos seus carniceiros seguidores, ofereciam diversões públicas monstruosas, participando e assistindo eles próprios à morte cruel e desumana de muitos inocentes lançados às feras ou queimados vivos.

A cena surreal de José Pratas com aquela feroz pandilha de perseguidores, que milhões de espectadores puderam assistir em directo pela TV, não foi mais do que a prova cabal da consolidação de um poder sinistro e medonho que por coincidência, tinha tido o seu início, em “Palermo”, dez anos antes, mais ou menos por esta altura do verão. Um poder, que tomou forma humana num sórdido “peidorrilhas” e obcecado fanático anti-Benfica, - um fulano sem escrúpulos, que “se fosse preciso até a sua própria mãe venderia”, segundo declarações de um seu ex-sócio, apelidado de “cabrão” pela sua actual mulher e que transformou a sua ex-amásia em “sobrinha” numa célebre audiência papal – e que baseado numa estratégia demagógica e num discurso mentiroso, começou a atiçar os cães-de-fila de “Palermo” infiltrando-os entre uma cambada de labregos dementes, frustrados e raivosos, carregados de um incurável provincianismo bacôco para os estimular e jogar inconscientemente para uma fogueira de violência como é a falsa guerra Norte-Sul, que teve e ainda tem sempre como objectivo, abater e destruir o Benfica, para colher dividendos sujos traduzidos em títulos e taças forjados e surripiados de todas as maneiras e feitios. Estas bestas nojentas, ainda hoje, indiscriminadamente, atacam tudo o que lhes apareça pela frente e que soe a Benfica.

Essa finalíssima da Supertaça foi disso um flagrante exemplo.
O 1-0 de Isaías não chegou, porque aos 85 minutos, tal como Proença na época passada, Pratas, borrado de mêdo, marcou “penalty” contra o Glorioso e após prolongamento a Supertaça fugiu
no desempate por grandes penalidades.

Nessa noite, muitos andrades mafiosos ajoelharam a “rezar”.

Já Al Capone, o “boss” do crime da Chicago dos anos trinta do século passado, também era um “benemérito” das obras sociais da igreja e ia à missa. Começava também nessa noite de 9 de Setembro de 1992 a era de um farisaísmo hipócrita que com a concordância tácita de polícias, juízes, políticos e generais, até o papa enganou.
A ascensão desta escumalha selvagem que não sabe ganhar nem perder, sejam quais forem as circunstâncias, continuou com a complacência das entidades responsáveis, onde a própria escumalha infiltrava cada vez mais corruptos e promíscuos, como hoje acontece em organismos internacionais ligados à área do futebol.
No entanto, para desespero de um dos maiores incendiários deste país das últimas décadas, um arruaceiro que com as suas pérfidas atitudes perverteu parte de uma metrópole, conotando-a com o que há de mais corrupto no país, e mesmo contra todas as suas posturas mafiosas e bandidas, bem como das de seus “capangas & muchachas”, o Norte, tal como o país genuíno, cosmopolita ou profundo, do Algarve ao Minho, tal como as ilhas atlânticas, tal como a nossa Diáspora, reviu-se sempre, revê-se e rever-se-á no Benfica e na sua massa adepta ímpar, apaixonada e lutadora, e não numa qualquer agremiação de bandalhos incorrigíveis, apelidados também de corruptos e batoteiros, epítetos pelos quais são hoje e serão sempre mundialmente conhecidos.
Estes deploráveis comportamentos, iniciados há quase trinta anos num “verão quente”, com um trapaceiro e quezilento “assalto ao poder” onde tudo valeu, protagonizado pela famigerada dupla, Giorgio & Cartola, continuaram cìclicamente pelo tempo fora, instigados sempre por discursos ordinários e populistas e contra a capital, quer de um quer de outro, depois só de um, para mais tarde serem repetitivamente bolçados por um coro de cegos e ignaros prosélitos, agitadores, rafeiros e azeiteiros do submundo de “Palermo”.
Ora não admira, à semelhança do que aconteceu nessa já longínqua data, que tenham aparecido novas “vagas” desses prosélitos, “instruídos” nessa péssima e desvirtuada escola eivada de vícios. É uma pirâmide completamente subvertida do topo até à base. O exemplo mais recente foi a camarilha de vinte “jagunços” andrades, vinda de “Palermo” num autocarro sem matrícula, vandalizando tudo o que eram estações de serviço de auto-estradas, molestando pessoas e criando um clima de autêntico terror por todos os locais onde passavam, não esquecendo também os “atropelamentos afonsinos”, “os assaltos a lojas”, os “desfalques bancários”, as “sovas bexiguentas” e as “bofetadas e murraças nas amásias”. Os actos sucedem-se em catadupa, mas como habitualmente, em “Palermo”, há detergente às toneladas. O branqueamento é a palavra de ordem.
Realmente foi com o advento da democracia neste país, que essa corja medonha começou a ganhar…
…Sim, mas a ganhar a impunidade perante um chorrilho de atitudes e actos criminosos nesta terra de brandos costumes…
Essas, lamentàvelmente, têm sido as suas vitórias, como a que ocorreu há dezassete anos no final de uma quente tarde de verão em Coimbra.

GRÃO VASCO