terça-feira, julho 14

"SEXOFONIA"

“Uma tarde no Erotic Museum”

Após uma louca aceleração pelos infindáveis corredores de Gatwick, lá consegui chegar à “gate 19A”, ainda a tempo de embarcar no vôo matinal com destino a Amesterdão.
O céu estava cinzento e o ar abafado. Vinha aí borrasca pela certa.
A viagem foi agitada e turbulenta.
A travessia aérea do canal da Mancha, a bordo de um bi-turbohélice de trinta e tal lugares, a uma média altitude e sob forte temporal, tinha-me provocado uma inquietante sensação de ansiedade. Sentia um aperto no coração, suores frios e a minha garganta estava sêca.
A coisa não foi para brincadeiras. À chegada, de uma ponta à outra da cabine, o silêncio do mêdo. Nem um zumbido se ouvia.
Aquela assustadora aventura no meio de núvens, relâmpagos, vento, muita chuva e granizo, só terminou, quando, já na capital holandesa o tempo abriu, e em pleno “Red Light District”, à porta de um “coffeshop”, comecei a vislumbrar aquelas belíssimas nórdicas de olhinhos fascinantes e as dengosas e sensuais negras das Antilhas Holandesas, enquanto saboreava uma fresquíssima “Amstel beer”, molhando alarvemente a sedenta goela.
A velha capital europeia do sexo, da droga, dos diamantes, das bicicletas e das tulipas continuava frenética. O célebre “Red Light”, um quarteirão “sui generis”, lá estava, fervilhante, transbordando sexo por todos os poros, ruas e esquinas – duro e a pagar na hora, pois “aqui não há fiado para ninguém”. As montras tinham sido renovadas e no porno teatro “The Clítoris”, que estreava uma badalada produção andaluza, “El Falo & la Vulva – Olé, olé!”, um dos nossos, extenuado pela longa angústia vivida em pleno vôo e envolvido pelo relaxante lusco-fusco da sala, acabou por adormecer a sono solto, ressonando ruidosamente. A caricata cena fez parar o gesto maquinal e entediante dos intérpretes desse sexo ao vivo em versão tauromáquica, que, entre perdidas gargalhadas apontavam para umas poltronas numa coxia do auditório. Quando as luzes se acenderam, o autor da façanha, ainda estremunhado, sob uma intensa chuva de risos e urras, foi presenteado pelos “actores” com uma boneca insuflável, uma caixa de comprimidos de “Viagra” e com uma longa salva de palmas da plateia. Surpreendentemente, no final, a “actriz” principal da “peça”, a mestiça caribenha Avril Sly, um novíssimo “biscato” de alto coturno, morena, sensual e toda ao natural, ùnicamente com um sexy colar de quatro rabinhos brancos de raposa do Ártico torneando-lhe o pescoço e pendendo pelo seu fabuloso par de mamas até ao depilado triângulo das Bermudas, desceu do palco em curvilíneo e provocante bamboleio, mimoseou o sonâmbulo felizardo com uma série de loucas “raviangas”, deixando-o completamente à toa, nu e todo besuntado de bâton vermelho escarlate, levando a assistência ao rubro. Único e inesquecível!
Já recompostos deste hilariante episódio, era hora de darmos início ao momento sempre importante do conhecimento e da cultura geral. A exposição itinerante que estava em exibição no Erotic Museum era imperdível.
Nela se encontravam espaços dedicados a individualidades bem conhecidas de diversos sectores da sociedade mundial e mundana, como intelectuais, actrizes, artistas, políticos, presidentes, futebolistas e “socialites”, entre outras.
Portugal encontrava-se bem representado – Chris Dois Caldos*, o famoso futebolista ilhéu e Giorgio di Bufa “O Corruptor”.
Depressa nos dirigimos para lá, pois o tempo urgia.
Foi uma visita enriquecedora, complementar àquilo que já se sabia.
No caso de Chris, cognominado na sua ilha, de “O Terror da Fajã das Abebras”, um fogo posto nos relvados e um mulherengo fora deles, no espaço que lhe foi dedicado, uma larga vitrina tendo como cenário de fundo as suas fotografias mais escaldantes, estavam expostos os seus principais troféus. Em grande destaque e enfiadas sobre a Bola de Ouro, estavam as calcinhas “fio dental” da Hilton, ainda com a etiqueta bem visível das Galerias Lafayette, de Paris. Feitas do mesmo material das camisas de Vénus de Chris, também com um exemplar em exposição, sobressaía nas cuequinhas, um minúsculo triângulo frontal em amarelo tórrido, que servia de tapulho às suas partes “fodengas”, e que trazia impresso a preto e em letras maiúsculas a já célebre frase, “Yes, I can!”, complementada logo abaixo com outra, bem expressiva, ”…with all of you!”. Hilton em todo o seu esplendor.
Num segundo plano, pendurado na biqueira da bota de prata de melhor marcador, ganha em Winchester, o célebre soutien “new line”, exclusivo da Zara nas Ilhas Baleares, e que porventura, durante meses, sustentou um portentoso par de mediáticas “nereidas” maiorquinas, deixando Chris completamente em órbita por uma Galharda que se esfalfou à grande e com…galhardia!
Já um pouco carcomido pela traça e amarelecido pelo tempo, num plano inferior, encontrava-se o “sari” super transparente de Xerche Romera, no qual ela escondia os seus encantos e recantos abrasadores, que tanto fizeram derreter as calorias de Chris.
Ao lado, por casual coincidência, reparei no expositor dedicado a Hilton. Lá estavam, em primeiro plano, as réplicas em silicone, dos mais importantes cento e cinquenta falos por si coleccionados. Um conjunto de respeito, com evidência especial para o modelo de Chris Dois Caldos, para o do hispânico Paco Niña, um distribuidor de leite porta-a-porta em Los Angeles e para o do limpa-chaminés da sua mansão na mesma cidade. Logo a seguir, na montra de Mécy, o pequeno fenómeno, destacava-se um instrumento digital azul-grená, tipo podómetro, que ele usava desde as camadas juvenis e que fazia a contagem parcial e total do número das suas fintas versus as “pívias” batidas na casa-de-banho do balneário, no fim dos treinos e em dia de jogo.
Faltava pouco tempo para o museu encerrar, mas ainda tivemos tempo para visitar a galeria dos corruptos, na qual se encontrava o espaço dedicado a Giorgio di Bufa. Um maduro babuíno, de azuis e salientes nadegueiros a descoberto, com feições humanóides, fazia segurança privada ao expositor. Em grande plano, a “milena” verde, juntamente com um comprovativo de transferência de milhares de euros de uma das suas muitas contas “off shore”, que Giorgio colocou no apetitoso rêgo das sensuais mamas de Creolina, quando mandou vir o primeiro branco espumante, a martelo, na alternadeira Noite de Todos os Calores, em “Palermo”. Logo a seguir, o rótulo da garrafa com a marca, a bâton, dos lábios de veludo da menina, e a respectiva rolha de cortiça que mais tarde serviu de tapume a fins excrementícios. Pendurado, o caderno de argolas, com a imagem da ETAR de Contumil impressa na capa, contendo poemas avulsos que Giorgio ridìculamente declamava, enquanto a sua companheira o presenteava com sexo oral, numa versão “light” do celebérrimo “garganta funda”. Ao lado, os bilhetinhos eróticos assinados e deixados à sua amante, usados depois, como marcadores de uma bíblia que lhe tinha sido oferecida pelo seu amigo, o sinistro Lôrenzo, a “Eminência Parda” da confraria corrupta, com a qual fazia as orações todas as noites, antes das aparatosas “touradas à espanhola” iniciadas em SanMilagro de Comportela e aquando das frequentes e farisaicas deslocações ao santuário da santa. O livro sagrado, por decoro, foi retirado. Um pouco mais atrás, o sedutor e “afrodisíaco” envelope com cinco exemplares falsos de uma nota de quinhentos euros no seu interior, cheio de nódoas de saboroso “café” e ricos “chocolatinhos” e uma réplica em louça das Caldas, da “fruta” com que subornava os apitadeiros. Numa prateleira abaixo, comprados na loja chinesa do “Dragão Xu-Paí”, diversos artefactos sadomasoquistas usados nas surras com que brindava as suas amantes, um corta-unhas ferrugento, uma dispositivo portátil de aparar os pêlos do nariz e das orelhas “made in Taiwan” e uma depiladora recarregável côr-de-rosa roubada numa loja do Benfica, com que ele, nos intervalos dos jogos do grémio da Fruta Corrupção & Putêdo, se entretinha a decorar artìsticamente as partes ardentes e pudibundas da sua querida. Dentro de uma garrafa selada de ar comprimido, de vidro azul transparente, ainda se notavam os resquícios gasosos das suas tempestuosas noites flatulentas de impotência. Espalhados, viam-se diversos cigarros “king size” da mesma marca dos usados por Creolina no grosseiro disfarce ao cheiro fétido das bufas pseudo eróticas de Giorgio, uma colecção de CD´s áudio das suas corruptoras recomendações como “conselheiro” sexual e matrimonial e ainda uma infindável série de cópias de cassetes vídeo douradas, gravadas na Pérola do Dragão Negro, contendo cenas porno-eróticas comprometedoras de muitos juízes de campo e auxiliares, chantageados vezes sem conta.
Realmente, um espólio nunca visto!
Tínhamos chegado ao fim da visita.
Eram horas de nos dirigirmos para o aeroporto de Schiphol. O avião com destino a Lisboa levantava vôo ao fim da tarde.
Resta-me a lembrança de uma belíssima e imponente descolagem num 747, envolta num fantástico pôr-do-sol descendo lentamente enquanto a aeronave subia cada vez mais sobre uma vastíssima planície reticulada e ponteada de milhares e milhares de minúsculas luzinhas de múltiplas cores, que aumentava progressivamente sobre a ténue e já pouco visível linha do horizonte.
Um caleidoscópio luminoso simplesmente extraordinário.
Inolvidável e deslumbrante!
Uma viagem cansativa com uma agenda bem preenchida, mas ainda a tempo de seguir para o “Santuário” da Luz, onde vi, circundado por um impressionante silêncio, junto ao relvado, num raro momento de recolhimento e meditação, com a Águia Vitória vigilante, pousada serenamente sobre os seus ombros, sòzinho e imóvel, Jesus a rezar. Pelo Benfica, pela sua rica vidinha e por Nós!
Por momentos pareceu-me assistir a uma cena bíblica. A miragem toldou a realidade e incrìvelmente, no instante seguinte, um som único, de uma quarta dimensão, eclodiu no ninho da Águia, e num eco premonitório mil vezes repetido, perpassou por todo aquele imenso e maravilhoso templo – Benfica Vitorioso, Jesus Glorioso!
Que Deus o oiça!

GRÃO VASCO




*Chris Dois Caldos ficou com este nome, pela sua indómita vontade de se transformar num grande atleta. Ainda garoto, e sendo magro e franzino, pedia e dizia sempre à mãe que lhe desse sempre dois pratos de sopa que comeria às refeições e que o tornariam mais forte e com mais saúde para ser um grande jogador de futebol. Assim aconteceu!
“This is a true story”!