quinta-feira, julho 2

"Está à vista por que voto em Vieira", por José Nuno Martins*

Súbita erupção de "benfiquistas" de ocasião numa estranha procissão de protagonistas que só conhecemos das novelas da "vida real"; sombrias movimentações de investidores desconhecidos, apenas gulosos por um clube gigantesco; testas-de-ferro e presunçosos cabeças de cartaz apresentando--se em bravatas transversais à baixa política, ao carreirismo e às negociatas, antes de se escafederem de goela em espasmos, pela porta baixa; excêntricas uniões de conveniência entre (ex?) arqui-inimigos figadais, num "albergue espanhol" de má frequência; foguetórios jurídicos de providências, acções e pseudo-mediações, em guerra permanente e contra a paz no clube; aviões, televisões e jornalismos espúrios... Tudo foi servido à gula dos inimigos do Benfica com estardalhaço e sem pudor. Mas, há males que nos trazem bem. Estas últimas semanas, afinal, acabaram por nos mostrar as verdadeiras razões que levaram a que os órgãos sociais eleitos justamente considerassem que o governo do Glorioso necessitava ser ratificado. O Benfica está, efectivamente, mais apetecível do que nunca e a traquibérnia veio escancarar os propósitos escondidos pelos seus protagonistas!

Todavia, considerando o que vi, o que fui vendo, o que tenho visto e o que estou a ver e ainda, por causa disto tudo, levando sobretudo em conta aquilo que espero ver daqui para a frente no universo ímpar do Benfica, obviamente que tenho a minha escolha feita e há muito tempo. Viesse quem viesse a sufrágio, os meus vinte votos e os outros trinta da família, seriam sempre entregues a uma lista proposta por Luís Vieira. Fui, de resto, um dos primeiros sócios do Benfica a pedir expressamente que Luís se candidatasse, num artigo que publiquei n'O Benfica, no final de Novembro do ano passado.

Luís Filipe Vieira provou que é um homem sério, persistente e sagaz e, enfim, um benfiquista fora do comum, desde que encetou com Manuel Vilarinho o gigantesco esforço de reconstrução de um Benfica destroçado no prestígio, na credibilidade, na competitividade e, até, no património. Quem, minimamente informado do grau de delapidação a que o Benfica fora sujeito durante a década anterior, poderia supor, na inquieta assembleia geral em 28 de Setembro de 2001 que, 25 meses depois, poderia estar a emocionar-se na inauguração de um novo estádio como o nosso? Quem imaginaria que, apenas seis ou sete anos depois, todos os calotes anteriores teriam sido pagos, enquanto já conseguíamos estruturar e honrar novos compromissos de crédito ou novas parcerias, como os das construções dos pavilhões, da piscina, dos espaços comerciais e envolventes da Luz, ou do formidável Campus de Estágio, no Seixal? Quem poderia conceber o poderoso desenvolvimento da imagem do nosso emblema? Ou a espectacular evolução do mundo das casas, filiais, delegações e núcleos do Benfica? Quem sonharia com um canal de televisão nosso, pronto a dar resposta e a repor as verdades do Benfica? Quem podia prever o enérgico ressurgimento do eclectismo histórico do clube, que em tão pouco tempo nos levou das vitórias caseiras aos mais elevados registos olímpicos?

Luís Vieira teve e tem (e deve manter!) essa ambição. Mas, conhecendo a história recente, bem sabemos que só quem concebeu e ergueu tanto património físico, hoje garantidamente só nosso, nas mãos dos sócios, e do nosso Benfica democrático e universal e não de um qualquer grupo económico sem cara, estará em condições de assegurar, agora, as vitórias que nos faltam no futebol e nas modalidades.

Finalmente, com todo o pragmatismo, ao Benfica só fazem falta aqueles que cá estão: é claro que não estimamos os que se servem dos direitos que o clube ainda lhes concede, para destruírem, em perigosas bravatas de aventura, a obra feita e o futuro de glórias.

* Emblema de Prata SLB n.º 16300/1

Artigo de opinião, publicado no jornal "PÚBLICO" no dia 2 de Julho de 2009.