sexta-feira, abril 17

NOTAS SOLTAS

O deve-haver dos benefícios arbitrais e o movimento opinativo


1. Nunca fui muito atreito a ter de desculpar as derrotas e os empates do Benfica com as arbitragens. Isto não significa menor reconhecimento de que o sistema que há 30 anos tomou conta do futebol português tem a máquina da arbitragem toda inquinada e que o Benfica é altamente prejudicado.


Alguma razão importante houve para se desprezar sistematicamente a presidência da Federação Portuguesa de Futebol, o cargo virtualmente mais elevado da estrutura futebolística, e para se impor sistematicamente o domínio do Conselho de Arbitragem, sem se conceder a menor possibilidade de o ceder a outrem.

Mesmo depois de alguns períodos em que começou a haver maior agitação e a suspeição era já um rumorejar imparável e incontroverso pelo descaro do proteccionismo ao clube condenado por corrupção tentada, o domínio daquele Conselho de Arbitragem não desapareceu, tendo sido entregue a testas de ferro – que estão para ser julgados no âmbito do processo apito dourado – numa operação de maquilhagem muito mal disfarçada, pois as combinações sobre a classificação dos árbitros continuaram a ser reiteradamente combinadas e cozinhadas com lacaios do corrupto condenado por tentativa e a cumprir pena.


O cargo mais alto da estrutura federativa foi perfeitamente dispensável, sendo indiferente ao sistema da corruptice que ele fosse ocupado até por Benfiquistas – João Rodrigues, aliás, um pau mandado do sistema – ou por mandaretes perfeitamente maleáveis aos seus desígnios, como é o caso de Madaíl, em mais uma operação de cosmética.


Não pretendo referir-me apenas ao árbitro, chefe de equipa, talvez muitas vezes pressionado pela sua classificação, talvez doutrinado com conselhos e avisos, umas vezes quiçá subornado com envelopes, fruta, viagens de férias.

Há toda uma engrenagem em funcionamento convergente. Os bandeirinhas agora árbitros auxiliares, os supra-sumos dos avaliadores do desempenho que pressionam e apavoram – Proença não foi reprovado no Benfica-FC Porto pelo desavergonhado avaliador por ter marcado o penaltie escandaloso – os chefes das classificações alteradas e alinhadas nos lugares adequados à prestimosa colaboração prestada.



2. Mas nunca fui muito atreito, reafirmo, ao dito fundamento justificante, fundamentalmente por três ordens de razões:


* A política de gestão desportiva do Benfica, esburacada de insuficiências de toda a ordem;

* A constante guerrilha pelo poder no Benfica, eivada de oportunismo demagógico;

* A péssima prestação, em muitas das disputas futebolísticas, de jogadores sem atributos técnicos mas especialmente sem chama, sem alma, sem dedicação e sem respeito pelo manto sagrado que equipavam.


A política desportiva foi sendo feita sempre pelo pulsar do sentimento do adepto, impaciente e sem complacência na concessão de tempo, aliada à inexperiência e alguma falta de competência para gerir dossier tão importante quanto sensível.


Certamente que o sistema se encarregava de desestabilizar tudo quanto fosse Benfiquista.

Externamente, quer fosse com penalizações da arbitragem e correlativos favores ao clube protegido – e também condenado – quer fosse pelos constantes enxovalhos e apoucamentos de dirigentes, treinadores e jogadores, amesquinhando tudo o que fosse do Benfica, desestabilizando, desmoralizando.

Internamente, através de papagaios e macaquinhos adestrados para realizar o trabalho de sapa e fazerem dos jogos de poder o seu diligente e persistente ofício.

As equipas de futebol, com a difícil quão nobre missão de representar um clube feito de glória, de grandeza humana e futebolística, falhavam estrondosamente, por deficiências técnicas muitas vezes, mas muito mais por falta de tradição e desconhecimento da mística que obrigava a dar tudo em campo, a correr durante todos os segundos da partida, a lutar, a transpirar.


Quer queiramos, quer não, ainda deparamos actualmente com muitas das deficiências assinaladas, principalmente da equipa de futebol, ela que tem a difícil tarefa de ser a retaguarda eficaz e segura no sentido de inverter pelo menos uma sensação quase real de acanhamento para enfrentar com mais denodo os batoteiros do sistema. Se é verdade que um fraco rei faz fraca a forte gente, não é menos seguro de que um exército que luta bravamente na frente da batalha é vencido se traído pela sua âncora da retaguarda.



3. Nunca fui atreito a tal desculpa, volto a sublinhar, mas assiste-se actualmente a um movimento opinativo na comunicação social, endemicamente anti Benfica, que só isso me fazia suspeitar de que nunca, como nesta época futebolística, o Benfica fora tão espoliado pelas arbitragens.

Que a equipa se exibiu muito mal em muitos jogos, é notório. Mas isso não justifica minimamente que as regras do futebol sejam quase sistematicamente vilipendiadas, em favor de uns e em desfavor do Benfica. Jogue-se bem, jogue-se mal, as regras são para ser cumpridas e aplicadas.


O movimento opinativo de que falei expressa-se – num tom que, por vezes, os seus autores querem dar a entender de compassivo – numa análise de um deve-haver naturalmente falacioso. Diz ou escreve ele, através dos seus miserentos comentadores-mandaretes, mais ou menos isto:


O Benfica tem razões para se queixar das arbitragens?

Tem!

Mas também já foi beneficiado algumas vezes…

Consequentemente, a contabilidade deve estar equilibrada…


A consideração do equilibrismo, o reconhecimento do deve-haver de tendência zero, faz-me comichão no ouvido!

Não opinarem que o Benfica é levado ao colo pelas arbitragens?!

É que há um rifão popular que diz, quando a esmola é grande até o pobre desconfia…

Não que tivesse dúvidas de que o saldo do deve-haver é nitidamente favorável ao Benfica. Mas, se acaso alguma sobejasse, este movimento opinativo tê-la-ia desfeito em fanicos.


Vai daí, resolvi-me a vasculhar de novo as contas.



4. O Benfica foi, concedamos sem nunca prescindir da nossa razão em outras pequenas-grandes coisas não assinaladas a seu favor nas mesmas partidas de futebol – a maior parte das vezes, pormenores que fazem toda a diferença não são levados ao conhecimento do telespectador, apesar do número de câmaras, e são abafados, seja pelos camareiros, seja pelos paquetes do comentário de encomenda – beneficiado pela arbitragem nos jogos contra o Braga e, vamos lá, concedendo com maior relutância, contra o Estrela da Amadora.

Podem, assim, contabilizar-se na coluna do deve 4 pontos.


Mas o Benfica foi altamente prejudicado em muitos mais jogos!


No Rio Ave-Benfica, ficou por assinalar um flagrante penaltie a favor do Benfica. Na contabilidade, 2 pontos para a coluna do haver.


No Leixões-Benfica, um golo muito mal invalidado ao Benfica só porque é proibido ao Nuno Gomes encontrar-se – se não mesmo pôr os pés – na pequena área do adversário. O Benfica ficaria a ganhar por 2-0 e eram mais 2 pontos para a coluna do haver.


No Benfica-Vitória de Setúbal, o árbitro anula mal um golo ao Benfica que o colocava a ganhar por 3-1, depois de ter mandado seguir – e bem, dera a lei da vantagem – a jogada após trancada arriada em Reyes. Na contabilidade, mais 2 pontos para a coluna do haver.


No Benfica-Nacional da Madeira, um golo escandalosamente anulado ao Benfica nos últimos segundos da partida e, na contabilidade, mais 2 pontos para o haver.


No Belenenses-Benfica, pelo menos dois penalties ficaram por marcar a favor do Benfica, tendo o árbitro do encontro, por isso mesmo, recebido a pior classificação desta época e de todas as que a memória alcança. Na contabilidade, mais 2 pontos para a coluna do haver.


No jogo FC Porto-Benfica, um penaltie fantasma por simulação reconhecida e disciplinarmente condenada e punida, retira 2 pontos ao Benfica e oferece 1 ponto ao seu rival. Na contabilidade, ou colocamos mais 3 pontos na coluna do haver, ou colocamos apenas 2 e endereçamos 1 ponto para a coluna do deve do FC Porto, o que vem a dar no mesmo.


Finalmente – porque a lista já vai longa – no Benfica-Académica um fora de jogo escandalosamente assinalado contra o Benfica, que dava golo praticamente certo, pois ficavam dois jogadores isolados na cara do guardião adversário. Acresce um penaltie não assinalado a favor do Benfica e um golo, diríamos, mafiosamente anulado, outra vez porque Nuno Gomes está proibido de estacionar na pequena área. Assim, castiga-se o estacionamento e não o autocarro que o albarroou e, para os defensores da lei da não compensação, cometeu novo penaltie abençoado e perdoado, certamente devido à época pascal de expiação de todos os pecados. Na contabilidade, mais 3 pontos para a coluna do haver.


Apurando agora devidamente as contas, temos 4 pontos na coluna do deve e 15 na coluna do haver. Fica um saldo positivo altamente favorável ao Benfica de 11 pontos que, somados aos seus 46, dariam um total de 57 pontos na tabela classificativa.


Porém, ao FC Porto, rival directo, se não quiséssemos ir mais longe, haveria que tirar ao menos 1 ponto, o que arrecadou por oferenda de Pedro Proença no jogo contra o Benfica. E teríamos o FC Porto com apenas 53 pontos.

E que não venham os opinadores da pelintrice com o eventual prejuízo que a arbitragem lhe causou no jogo contra o Trofense porque foram bem compensados, com juros e tudo, por exemplo, nos jogos contra o Braga e contra o Rio Ave. Se contas houvesse a acertar, seria a passagem de 2 pontos da sua coluna do haver para a do deve, fazendo baixar a sua classificação para os 51 pontos!


São estas as contas equilibradas dos mafarricos comentários dos videirinhos do sistema!

Se elas fossem mesmo equilibradas, então é que seria um regalo ouvi-los no regabofe pelintra e nos escritos de um espumar bafiento de mofinez!



5. Todavia, não me contento minimamente com estas contas. Infelizmente, elas contêm efeitos meramente virtuais e não podem tornar-se no ópio dos Benfiquistas.

Temos de encarar a realidade de frente e concluir que temos de fazer muito mais do que o que fizemos porque já sabemos há muito tempo que lutamos em campo não apenas, regra geral, contra 14, mas ainda contra a excessiva e inusitada agressividade da equipa adversária, para quem o jogo contra o Benfica é o jogo da sua vida.

Esta agressividade é benzida e abençoada pelos árbitros, os curas da paróquia do papa condenado por tentativa de corrupção e a cumprir a respectivas e benevolente pena pela batotice.

Mas não se admirem, caros Benfiquistas, de que estes pequenos clubes façam do jogo com o Benfica a sua coroa de glória. Até o Sporting – que ainda se reclama um dos grandes apenas por apanhar e comer migalhas esquecidas e deitados ao lixo – pensa que ganha o campeonato só por vencer o derby e ficar à frente do Benfica!


É bom não esquecer, a este propósito – e eu não me esqueço – certas palavras ditas e reditas por Jesualdo Ferreira, aqui há poucos anos, enquanto treinador do Benfica, nas conferências de imprensa das vésperas dos jogos:


«nós Benfiquistas sabemos bem que, para ganhar, temos de correr e jogar o triplo do que correm e jogam os adversários porque, para eles, é o jogo da sua vida»


Nunca mais lhas ouvi proferir, enquanto treinador do FC Porto!