sábado, abril 4

MISSA DE RÉQUIEM

Um marido que desconfiava que a digna esposa o enganava (nao, nao era a Filó-leva-na-Tromba-e-Gosta) encarregou um detective de a seguir. Passados uns tempos o detective informa-o das diligências: segui a sua esposa, ela entrou no carro de um amigo, pararam à porta de uma Pensao, entraram, foram para um quarto, fecharam a porta à chave, e quando espreitei, apagaram a luz e nao pude ver mais nada.
Vira-se o marido e diz: e agora? Como vou saber se a minha mulher me engana ou nao? Vou ter que andar nesta dúvida.
Esta estória serve de introduçao a esta prosa que nao pretende mais que ilustrar o sentimento de desencanto que me vai na alma.
Nunca é demais lembrar aqui que me fizeram Benfiquista, para inculcar em mim os Valores Humanos perenes, cujo topo de hierarquia estava no Benfica, porque as multidoes que arrastava nao iam só ver um jogo de futebol, espalhavam por esse País fora, a luta generosa e leal, o respeito pelo adversário, a limpidez de processos, consubstanciados no significado da Águia: Altivez sim, mas com Honra.
Fêz pois parte da minha Formaçao como Homem e Cidadao, o procedimento conforme as regras da Sociedade em que estava inserido, e que com a inevitabilidade do correr dos anos, iria assumir um papel mais preponderante, como aliás é o papel das Geraçoes vindouras: substituir a geraçao anterior, mas proceder conforme os Valores Humanos.
Os tais Valores Humanos que por serem eternos, permitem que as relaçoes na Sociedade se desenvolvam de forma harmoniosa.
Por vicissitudes da vida, travei amizade com um jogador de futebol, que hoje é Juíz Desembargador, e com uma Juíza do Tribunal da Relaçao de Coimbra.
Um e outra, honram-me com a sua amizade. Já agora "conheci" aqui, o Gil Vicente, cujos postes sao obras-primas da prosa.
Nao impede isto porém, de eu considerar que um Juíz nao faz justiça.
Nao é Juíz para ser justo, é Juíz sim, para defender a moral vigente.
E fácil se torna perceber este meu modo de pensar, se considerarmos que seria ridículo, os Juízes da Antiga Roma exercerem agora o seu mister, bem como seria ridículo os Juízes de agora exercerem o seu mister daqui a mil anos.
Mas francamente, tudo tem um limite.
Foi ilibado D. Giorgio di Bufa.
Ficou mais rico o Benfica, na medida em que o seu Presidente, por nao dobrar a coluna, fêz com que a Justiça fizesse sentar o Capo di Capi português no banco dos réus.
Mas ficou o País mais pobre, triste e temeroso.
Podem contrapôr com a máxima do Direito Romano "in dubio pro reu.
Mas qual dubio?
Aqui o que aconteceu foi: mais valem três culpados livres, que três culpados presos.