domingo, novembro 5

Imagens de outro futebol

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Salve, Benfiquistas!

Hoje o vosso marquês plebeu vai tirar uma pausa de malhar na porcada e deixar falar um jornalista, João Lopes de seu nome. Sendo o panorama jornalístico português bastante pobre de ideias, bastante triste, e bastante covarde, dá sempre prazer ler alguém com a coragem de dizer que o rei vai nu – alguém que aponte o dedo à própria classe.

Foi o caso de João Lopes no seu “Teletextos” de 5 de Novembro de 2006 (DN).

Diz ele:

Na quarta-feira, no Estádio da Luz, o Benfica obteve uma magnífica vitória sobre o Celtic de Glasgow (3-0), desse modo relançando as suas hipóteses de passagem à fase seguinte da Liga dos Campeões. Entre as memórias do jogo ficaram os festejos finais: no meio das celebrações dos benfiquistas, adeptos do Celtic aplaudiam com a alegria salutar de quem, mesmo na derrota, participava numa festa [era o que podia acontecer sempre em Portugal, se metade do nosso invejoso país não odiasse a sua maior Instituição!!].

Numa imagem muito breve era mesmo possível ver alguns apoiantes escoceses a virarem-se para o lado e para trás, cumprimentando os adeptos do Benfica. Era uma daquelas imagens que condensava o gosto simples, mas essencial, de fruição do espectáculo desportivo. Perder ou ganhar? Há coisas mais importantes.

A imagem era, de uma só vez, tão singela e tão forte que justificava que questionemos algumas opções correntes da informação televisiva.
[E como!] De facto, não é preciso muito esforço para compreender que a regra televisiva em relação ao futebol (e não só...) é a do sublinhado redundante. [Há que dar emprego aos desdentados da pátria!] Mais do que isso: tudo aquilo que possa suscitar algum conflito clubista e pueril (por exemplo, uma grande penalidade “bem” ou “mal” assinalada) serve muitas vezes de matéria para mais importância informativa que as tensões no Médio Oriente ou a corrida da Coreia do Norte ao nuclear. [mea culpa – mas adiante...] Ainda recentemente, a troca de mimos entre os presidentes do Benfica e do Porto foi, ao longo de uma semana, transformada em premente questão nacional. [É a táctica habitual da guerrilha andrade. Um dia explico-te, João.]

Ora, que fazem as televisões com a saudável convivência dos adeptos de Celtic e Benfica? A resposta é simples: ignoram o assunto. Daí que o continuado discurso jornalístico (?) sobre a atenção à realidade e o primado da verdade não passe de uma obscena desculpa para alimentar as boas consciências. De facto, a realidade não se oferece numa bandeja: qualquer olhar é selectivo. Além do mais, mesmo sem invocarmos as dúvidas primitivas de Platão, sabemos que a verdade é sempre uma construção que responsabiliza qualquer narrador.

Enfim, se uma minoria de espectadores do jogo no Estádio da Luz tivesse armado alguma zaragata, teríamos uma semana de incessantes repetições das respectivas imagens... Sempre em nome da objectividade, claro.

Os meus cumprimentos respeitosos para o autor deste excelente texto. Mais existissem como ele, e quem sabe se a sua classe não seria hoje respeitada por aqueles que amam a verdade desportiva.

Palavra de Marquês!