domingo, outubro 21

Reflexão

93,562 milhoes de euros. É o prejuizo brutal dos 3 grandes em 2011/2012.

E estamos a falar de um ano em que foram vendidos Falcao, Fábio Coentrão e Guarin. 

Estes números mostram a falência iminente do futebol português e uma necessidade urgente de repensar todo o modelo de negócio dos principais clubes. 

Os resultados operacionais (excluindo vendas de jogadores) são há muitos anos negativos nos 3 clubes... no caso do Benfica em 2010/2011, atingiu-se quase o equilíbrio mas ainda foi negativo e pelo que sei em 2011/2012 voltou a ser. Nos outros 2 clubes, a diferença entre as receitas e os custos operacionais (sem manipulações) estão normalmente entre 15 e os 30 milhões por época.

Por outro lado, a crise financeira levou ao aumento das taxas de juros e neste momento os custos financeiros estão a níveis bem elevados. Para que se entenda melhor o problema, neste momento, a mais valia da venda de um bom jogador, dificilmente paga os juros dos empréstimos que qualquer um dos clubes tem (anualmente acima dos 10 milhões de euros).

Outra questão importante é ver que mesmo com vendas importantes de jogadores, os resultados relacionados com a compra e venda de jogadores foram negativos nos 3 clubes.

Aquilo que podemos entender é que devido aos empréstimos bancários que fizeram, os 3 clubes não conseguem equilibrar as suas contas anuais, e depois aquilo que antes os salvava (a venda de jogadores) já não é a solução. Isto é, o modelo FALIU!

Na minha opinião, o Benfica é o que melhor está de entre os 3, mas mesmo assim não estou descansado. O actual estado da economia portuguesa, pode levar a uma redução das receitas e um aumento dos custos (especialmente nos impostos e juros da dívida) e vamos ter em 2012/2013 mais um ano com receitas baixas dos direitos televisivos.

Obviamente que temos que ter bons jogadores e devemos pagar por eles. Mas não podemos entrar nas guerras com os corruptos. É totalmente absurdo que um clube português (com receitas ordinárias de 60 ou 70 milhões) pague 23 milhões por um Hulk ou 17 por um Danilo. Até podem ser vendidos pelo dobro, mas no final são investimentos com retorno muito duvidoso (pois há os salários, as comissões, os prémios, etc...) e que levam a uma grande exposição à dívida bancária.

A solução do futebol português passa pela formação*, que era fortíssima nos anos 90 e início de 2000, mas que parece ter sido esquecida. Nos últimos 5 ou 6 anos, não vi sair da formação dos 3 grandes, nenhum Ronaldo, Figo, Simão, Rui Costa, Maniche, Paulo Sousa, Fernando Couto, Jorge Costa ou Ricardo Carvalho. Vemos jogadores interessantes, mas nenhum desse nível.

No caso do Benfica, vejo alguns jovens interessantes que terão que ser integrados nos planos da equipa principal. Cada vez mais as segundas opções têm que ser jogadores da equipa B e não jogadores com custos de 3 a 4 milhões de euros. Financeiramente é a única opção.

Os dirigentes e os técnicos têm que acreditar e implementar essa filosofia... e os adeptos têm que aceitar e apoiar. O que se passou, por exemplo, com Melgarejo (e anteriormente com Coentrão e outros) é totalmente inaceitável. Por um jogo quase lhe destruíram a carreira e hoje confirma-se que o rapaz é uma boa opção para o lugar, e porta-se melhor que Emerson ou Capdevilla.

Obviamente que a aposta em tais jogadores leva a que por vezes eles cometam erros. Mas é por isso que eles chegam por 1 milhão ou menos e depois pode ser vendidos por 20, 25 ou 30 milhões (como aconteceu com David Luiz ou Fábio Coentrão). 

A nova direcção tem também que repensar a estratégia financeira. Não, não falo de passivo**... falo dos empréstimos bancários e especialmente dos altos juros que estamos a pagar aos bancos. Em 2007 ou 2008, pagaríamos muito menos e com os juros baixos, fazia sentido fazer investimentos com dinheiro dos bancos. Hoje claramente, não faz.

Depois há a questão dos direitos televisivos... sinceramente estou estupefacto que ainda há gente a pensar que é tudo uma questão de Vieira assinar ou não com o Oliveira.

A cada dia é mais claro que o objectivo é uma negociação centralizada dos direitos e eu já alertei e muito aqui. Sei, de fontes bem seguras, que o Benfica não é totalmente contrário a isso, desde que receba o que merece. Pois na Luz, entendesse que o Futebol devia receber bem mais do que recebe, e se além do Benfica, os outros clubes também receberem mais, a qualidade do futebol melhorará e a competitividade também. E quanto melhor e mais competitivo, mais serão as receitas.

Mas o problema não é só dinheiro, mas sim também de "sistema". Tem que existir um sistema limpo e que permita que seja o melhor a vencer. O sistema imundo e corrupto demonstra cada vez mais que não é lucrativo. Mesmo promovendo Hulks e companhias, o clube do sistema tem prejuizos brutais... o clube que o apoiou há 10-12 anos atrás consegue ter prejuizos de mais de 90 milhões em 18 meses.

Chega de escrever... agora é hora de dar um mergulho na praia (felizmente onde estou ainda dá para isso!!!).

Um abraço,

V.

* Encontrar jogadores com 17-18 anos e dar-lhes 1, 2 ou 3 anos de rodagem (como aconteceu com Coentrão, David Luiz ou Melgarejo) também faz parte da "formação". Os seus primeiros clubes deram-lhes muito mas foi no Benfica que aprenderam a jogar ao mais alto nível.

** Há mais de 10 anos que vejo gente ignorante a falar do passivo como se fossem doutorados em economia. Gente que não tem PUTA IDEIA do que está a dizer e que não entende como funcionam as empresas. E por isso digo... antes de falarem do passivo do Benfica, vão aprender um pouco de contabilidade. Ou então vejam esta pequena explicação do que é o PASSIVO, por DSOliveira. Só ficou por dizer que o BEnfica também aceita (como todas as empresas aceitam) que as outras empresas também paguem ao longo de um determinado período.

P.S.: Não, não falo de eleições... só falo do Benfica.