segunda-feira, fevereiro 4

MÍSTICA

Tenho como pano de fundo na "pantalha" do meu computador, a 1ª Equipa de Futebol do Benfica.
E pus-me a meditar no percurso que foi percorrido desde esses tempos até à actualidade e, fiquei perplexo.
Desde a FARMÁCIA FRANCO, que um grupo de utópicos visionários (passe a redundância), lançaram maos à obra para, para além de um Clube erguerem uma Mística, encabeçados pelo imortal COSME DAMIAO.
Imortal sim, pois só verdadeiramente morrem aqueles que sao esquecidos e, COSME DAMIAO é daqueles que nos versos doutro imortal, CAMOES, príncipe dos poetas, "se vai da lei da morte libertando".
O Benfica nasceu e depressa mostrou ao que vinha: ligar-se ao Povo, ser o "o mais querido" o expoente máximo dos anseios desse mesmo POVO, traduzido em vitórias, para "atirar à cara" de quem os oprime.
Andámos anos e anos com a casa às costas, "roubaram-nos" meia equipa (foi o clube da Burguesia por excelência) nunca deixámos de cumprir com os nossos compromissos.
Como nao podia deixar de ser a construçao da Catedral foi épica: cada um levava o que podia: desde simples ajulezos, até ao sacrificar a família, desviando parcos tostoes para erguer a obra conjunta, a obra de todo um POVO, que se revia no maravilhoso e se calhar inimaginável.
"Nunca se ama bastante, quando nao se ama de mais", como diz um fado.
Para angariar fundos compoe-se o SER BENFIQUISTA, e a emoçao faz cair lágrimas quando LUÍS PIÇARRA empresta a sua extraordinária voz ao HINO e, poe o Pavilhao dos Desportos em pé e com "pele de galinha", e as bolsas abrem-se generosamente.
Começava a nascer a Mística, cimento aglutinador, para esta maravilhosa viagem de companheirismo, alegrias e tristezas e um enorme e imenso orgulho de pertencermos à FAMÍLIA BENFIQUISTA..
FERREIRA BOGALHO que, aquando do arranque da construçao da Catedral disse "com o nosso entusiasmo e o vosso exemplo", esteve à altura da História, ao fazer entrar, no dia da inauguraçao, primeiro os OPERÁRIOS que construiram o Estádio e, só depois os ADEPTOS e as Individualidades.
Guardámos o nosso maior tesouro, que é a ligaçao ao POVO.
Por estas alturas já ultrapassávamos a mera designaçao de CLUBE, para entrarmos no domínio do SAGRADO.
Como muito bem traduziu o saudoso e querido ARTUR SEMEDO quando, lhe disseram que o Clube dele era o Benfica, respondeu:"O MEU CLUBE? NAO. A MINHA RELIGIAO".
É a Mística em crescendo, cimento que nos vai aglutinar para uma viagem ao Olimpo da Glória.
Clube que fazia ponto de honra de só ter portugueses, encantou e vergou o Mundo do Futebol ao poderio da ÁGUIA , aos pés de "monstros sagrados" do jogo da bola.
Saltou fronteiras, deu Portugal a conhecer.
Portugal era Benfica e...Eusébio.
Salazar, o ditador que caiu da cadeira, "tirou o chapéu" ao CLUBE DO POVO, ao aproveitar-se do Benfica para poder ser reconhecido internacionalmente.
Eusébio nao pôde sair para o Inter de Milao, havia que guardar as jóias de Portugal.
Os ANTIFACISTAS, combatentes da LIBERDADE, vinham para a rua lutar, empunhando bandeiras vermelhas do...BENFICA.
O BENFICA, único no Mundo, que faz com que um comunista e um fascista se abracem, fazia parar a guerra.
LOBO ANTUNES, conta que, punham os altifalantes virados para o mato, para portugueses e guerrilheiros, ouvirem os relatos do Benfica.
E a guerra parava mesmo.
Hoje mantemos a forte ligaçao aos povos irmaos das "colónias".
Uma menina, moçambicana, da cor do ébano, quando da digressao a Moçambique tinha um cartaz que rezava assim: "NAO GOSTO DE FUTEBOL, MAS ADORO O BENFICA".
Comovente.
Mais nos engrandecemos com novos povos que falem português: Fernando Pessoa disse que " a minha pátria é a língua portuguesa".
Por isso dizer que somos SEIS MILHOES é pouco, muito pouco.
Viro a página, mas volto a FERREIRA BOGALHO.
Pegando nas suas palavras de "com o nosso entusiasmo e o vosso exemplo", pergunto: que exemplo estamos a dar?
Acusam-se os jogadores novos de quererem sair para irem para outros clubes, que nao têm a Mística.
E eu nao os condeno.
Jogadores jovens, que deixaram a Família, os Amigos, o País, que vêm para cá, e como sao recebidos?
Com assobios, vaias e lenços brancos.
Ao saírem do seu País, vêm à procura de melhor vida, claro, mas também de adeptos que, lhes façam minorar a saudade do que deixaram. Isto é, vêm para que os integremos numa nova Família, a FAMÍLIA BENFIQUISTA, que tanto ouviram falar.
DI MARIA comprou 39 camisolas do BENFICA, para no Natal as distribuir por familiares e amigos.
Que clube no Mundo inteiro inspira a fazer isto?
E ao serem hostilizados nao entendem, eles que nos treinam se esforçam, que "crime" cometeram?
E assim a Mística esmaece.
Culpa de quem?
Dos "tais" benfiquistas.
É que Mística nao sao só vitórias. Nesta palavra entram também as derrotas.
Para termos só vitórias, comprem-se árbitros, jornalistas e Justiça.
Mística, é amar sofrer e olhar sempre em frente, com fé e muita esperança, sem esquecer o que nos fêz GRANDES.