No grémio da Fruta Corrupção & Putedo o frenesim era enorme.
Uma autêntica corrida contra o tempo.
Aproximava-se o início de mais uma época, e o que era uma busca banal transformou-se em louca obsessão. Desde as selvas equatoriais da Colômbia, passando pelos áridos e gélidos desertos do Turquemenistão, até aos santuários místicos da Índia dos Gurus, emissários corruptores e corruptos do referido grémio, procuravam incessantemente uma nova substância que aumentasse o rendimento físico dos seus jogadores e atletas, e que fosse indetectável nos rastreios periódicos e testes convencionais do CRSDP – Comité Regulador de Substâncias Proibidas no Desporto.
A “Lusitânia” não fugia à regra. Mais propriamente em “Palermo”, na Trypalândia, tudo era feito para se encontrar uma solução num mínimo espaço de tempo. Por sugestão de Giorgio, o Conselho Consultivo do grémio de “Palermo” reuniu e definiu o perfil que mais se coadunava com este trabalho de investigação e síntese – alguém muito ligado ao dito grémio e especializado em diversas áreas do ocultismo, particularmente a alquimia.
A escolha recaiu unanimemente em Albes do Celse – o mestre das previsões falhadas. “Futurólogo”, bruxo, vidente e macumbeiro, tinha recentemente participado num curso intensivo de alquimia africana, num lugar recôndito no Senegal. Aguardava ainda pelo diploma, pois da primeira vez que misturou pós numa das aulas práticas, desencadeou tamanha explosão que pegou fogo às cubatas. As autoridades policiais locais chegaram a admitir a hipótese de ter sido obra da Al Qaeda. Retiveram-lhe o passaporte durante o seu tempo de estadia no país. No entanto, este contratempo não obstou a que Giorgio lhe desse o aval financeiro para avançar. Mestre Albes do Celse logo se reuniu com o seu staff – Coxabamba Titonga, Mamudanska Pilona e Virgolinus Cunnilingus.
Coxabamba Titonga, uma feiticeira senegalesa que fazia jus ao nome e era uma bela e jovem negra com umas coxas portentosas, ligeiramente arqueadas e um fabuloso “aileron” traseiro de fazer inveja à Naomi Campbell, constituiu-se por mérito próprio na sua primeira assistente. Conheceu Celse no tal curso de magia africana que ambos frequentaram numa aldeia ainda distante de Dakar. Aí, Coxabamba trocou literalmente os olhos ao mestre, que nem com a sua macumba de bloqueio resistiu àqueles exóticos encantos. Celse, completamente preso pelo beicinho, convidou-a para continuar a fazer consigo fantásticos feitiços de alcova, dando-lhe sociedade no negócio que montara em Vilar do Visconde. A afluência de emigrantes africanos ao seu consultório chegou a ser, por vezes, alucinante. Num horário semanal normal, de segunda a sexta, das dez às dezoito horas, com um intervalo de uma hora para almoço, Coxabamba nunca despachava menos de uma vintena de clientes por dia. Um fenómeno. Assim, o negócio oculto e do oculto de Mestre Celse ia de vento em popa.
Pertencendo ao staff, a trintona Mamudanska Pilona, uma taróloga loira ucraniana, cujo par de baralhos baralhavam a cabeça e os olhos de qualquer um, que tinha consultório vizinho ao do Celse e de vez em quando lá abria a porta de ligação entre ambos, para com ele fazer uns breves biscates de circunstância, começou a ser relegada para segundo plano.
Virgolinus “Cunnilingus” era o castiço do quarteto. Lituano radicado em “Palermo” há mais de vinte anos, conhecia bem os meandros mafiosos da cidade. Para além das suas loucas predilecções eróticas, e sendo o elo de ligação entre Giorgio, figuras de topo do grémio da Fruta Corrupção & Putedo, apitadeiros e respectivas prostitutas contratadas, dedicava-se ao contrabando de diversos artefactos e era informador privilegiado de Celse. Recolhia informações dos diversos e ricos clientes do bruxo, com o objectivo de que nas consultas, ele as usasse subreptìciamente da forma mais lucrativa. Como o seu nome sugere, tinha um gosto especial pelas nativas do signo Virgem, as virgens. Era também conhecido pelo mágico das fantasias impossíveis. Com a sua arte, conseguia que muitas andrades corruptas clamassem “orgasmicamente” pelo Glorioso.
- Oh, Virgo, “bem… fica, fica, fica! - gritavam elas muitas vezes.
Mestre Albes do Celse estava no término das suas consultas diárias e aprestava-se para se dirigir para as traseiras do edifício onde detinha um anexo bem conservado, que em tempos idos para além de ter funcionado como lupanar, serviu de reservado de emergência para o que desse e viesse. Ali foi servido muito café com leite e chocolatinhos com ritmos e sotaques brasileiros a muitos “apitadeiros”. Também foi refúgio provisório no regresso atribulado de Giorgio, após a sua vergonhosa fuga para SanMilagro de Comportela com a conivência de funcionários judiciais. Foi ali que Giorgio, em ceroulas, declamou hipòcritamente mais um dos seus poemas, em segunda declaração de amor a Filó, e constituiu local de recolhimento e meditação para Creolina, quando esta começou a escrever as incríveis e escaldantes memórias da sua vida íntima com Giorgio. Prova disso, um conjunto de “birimbaus”, adereços eróticos “made in Brasil”, fios dentais, coleiras e açaimes de Bobby & Tareco, caixas de comprimidos para o meteorismo e a aerofagia, livros de poemas amarelecidos e esburacados pela traça, exemplares de “O Grande Seringador” e de “O Borda d’Água” e uma velha BIC com a tampa completamente roída com a marca da letra alfabética C (de Creolina) que com muito pó e cheios de teias de aranha se encontravam amontoados e esquecidos a um dos seus cantos.
Realmente um anexo com história!
Nessa altura, quando Celse chegou, já Coxabamba estava no interior do espaço à sua espera. O grande mocho, os morcegos e os sapos roncadores que partilhavam aquele cenário bruxo, agitaram-se quando ouviram o brusco tilintar do grande pagode chinês esquecido atrás da porta por uma tailandesa que em outros tempos lá tinha trabalhado em outras artes.
Por momentos o mestre e a assistente ficaram extasiados. Não era para menos. Num prazo de dois dias, e para o efeito pretendido, Virgolinus tinha entrado em contacto com Fyn-tó-Chui, um chinês importador de material pesado de Shangai, e tinha solucionado a questão. Através de grossas alvíssaras, como habitualmente, o laboratório saiu discretamente da alfândega de “Palermo” pela porta dos fundos com a equipagem totalmente completa, tendo logo sido montado ao pormenor no célebre anexo.
O laboratório era um autêntico labirinto de tubos, retortas e balões de ensaio ligados por serpentinas em vidro, refrigeradores e “bicos de Bunsen”. Começava numa caldeira de vidro grosso temperado, onde se colocava a “matéria prima” juntamente com diversos líquidos para formar uma calda grossa borbulhante, e acabava num grande balão onde se depositariam os resíduos que após passarem por um pequeno almofariz hidráulico constituiriam o pó milagreiro. Posteriormente a droga secreta teria a sua formulação só em cápsulas.
Albes do Celse, fascinado com o processo, dizia para Coxabamba:
- Ó filha, adiciona aí à calda umas boas raspas de pau-de-Cabinda, pois tenho a certeza que quando o pó estiver pronto e testado pelos atletas, o Giorgio vai querer tomá-lo para dar vazão às constantes solicitações da Filó. Como ele já não se aguenta nas “canetas”, carrega-lhe bem, com uma boa quantidade, pois assim teremos
garantida a sua aprovação. Depois é dinheiro em caixa. O viagra a partir daqui irá ter a concorrência do nosso “Pilagra”, o genérico da nova geração!
Coxabamba só desabafava:
- “Ó Celsi, nem pensis em tómá-lo nos tempos mais perto, poix eu com tánto trábálho já ándo tão di rástos qui já agora só faltava aguentá com a tua pisada pánça e com o teu horrível hálito à álho, meu!
O Bufo Real de estimação, também conhecido por Corujão, um mocho imponente apanhado em Sortelha e arrematado por mestre Celse num leilão de feira em Terreiro das Bruxas, que a par com o grande morcego da Austrália, os repelentes sapos roncadores e morcegos orelhudos compunha o cenário do anexo, com o seu grande olhar circunspecto, piava e espanejava as asas de estupefacção.
- Ok, ok, - dizia Celse pensativo - depois disto vamos de férias para a Jamaica e lá podes pôr-te em forma outra vez e eu também, ok?
A bela feiticeira esboçou um sorriso de alívio e lá continuaram ambos embrenhados na síntese do produto.
Ao fim de uma semana e depois de uma laboração permanente, Celse, ao ver os primeiros vestígios do tão almejado pó e a sua pureza cristalina, exclamou:
- Eureka, eureka! Conseguimos, Coxa! O pó exala um cheiro sulfuroso muito parecido com as bufas do “padrinho”, mas não importa, pois será tomado em cápsulas de cor azul. Agora é só testá-lo no Sirocco.
Sirocco era um atleta em ascensão comprado por “tuta e meia” e perspectivava-se mais uma cartada de Giorgio. Com uns jogos a um rendimento de alto nível, a valorização, num curto espaço de meses seria de cinco mil por cento. Um negócio chorudo, bem à moda de “Palermo” e à medida de Giorgio. A “azulinha” resultou em pleno e lá estava ele a caminho do país do spaghetti e de muita outra pasta para os derradeiros exames médicos. Quando tudo parecia bem encaminhado, o médico mandou-o mastigar um pouco de pasta misturada com rúcola e verificou que havia uma acentuada assimetria na mandíbula que lhe podia cortar a língua. Era o suficiente para o departamento médico da agremiação transalpina chumbar e rejeitar o pobre do Sirocco. Voltou desiludido e revoltado. Para saber do seu futuro marcou consulta com o Mestre Celse. Sirocco, muito confuso, perguntou-lhe se tinha sido da “azulinha”. O mestre ficou petrificado e meio aparvalhado respondeu-lhe:
- Olha, Sirocco, aqui ao lado está o consultório de um tal Dr. Galliani. Verás uma tabuleta com o nome dele. Trata lesões nos artelhos, “papos de galinha”, esporões de galo, joanetes e é especialista em alopécias precoces e assimetria das mandíbulas. Quando me perguntam, como tu me perguntaste agora, se o problema é daquele suplemento vitamínico de pó em cápsulas, prevejo logo que estamos perante um caso de assimetria das mandíbulas. Por isso te encaminho para ele, como já encaminhei outros, ok?
Em contrapartida, quando ele vê um problema de pó, recambia-me imediatamente o paciente para cá. Fazemos um intercâmbio, percebeste?
Sirocco, completamente à toa lá foi marcar uma consulta.
E assim, o Dr. Galliani continuou na maior. A sua actividade continua a render-lhe quinze milhões na conta e sabe-se lá, porventura, poderá estar à espera de investir com confiança absoluta, aí sim, com confiança absoluta em dois ou mais “bebés” que saiam do Campus seixalense.
Quanto ao famigerado quarteto mágico, continua a laborar em grande, com o Albes do Celse a tirar uma curso de conselheiro sexual, devido à comercialização do “Pilagra” e a bela Coxabamba a acabar a sexta classe para obter o diploma necessário ao exercício da sua actividade.
Virgulinus fez uma operação estética e alongou ainda mais a língua.
Mamudanska é apresentadora de televisão e aproveitou para retocar o busto.
Sirocco baptizou-se e Giorgio foi o “padrinho”.
E em terras transalpinas gozou-se à fartazana. Até no relvado do Giuseppe Meazza as formigas se riram…
…o “show” continuou e cantou-se o “Torna a ‘Palermo’”!
GRÃO VASCO
Uma autêntica corrida contra o tempo.
Aproximava-se o início de mais uma época, e o que era uma busca banal transformou-se em louca obsessão. Desde as selvas equatoriais da Colômbia, passando pelos áridos e gélidos desertos do Turquemenistão, até aos santuários místicos da Índia dos Gurus, emissários corruptores e corruptos do referido grémio, procuravam incessantemente uma nova substância que aumentasse o rendimento físico dos seus jogadores e atletas, e que fosse indetectável nos rastreios periódicos e testes convencionais do CRSDP – Comité Regulador de Substâncias Proibidas no Desporto.
A “Lusitânia” não fugia à regra. Mais propriamente em “Palermo”, na Trypalândia, tudo era feito para se encontrar uma solução num mínimo espaço de tempo. Por sugestão de Giorgio, o Conselho Consultivo do grémio de “Palermo” reuniu e definiu o perfil que mais se coadunava com este trabalho de investigação e síntese – alguém muito ligado ao dito grémio e especializado em diversas áreas do ocultismo, particularmente a alquimia.
A escolha recaiu unanimemente em Albes do Celse – o mestre das previsões falhadas. “Futurólogo”, bruxo, vidente e macumbeiro, tinha recentemente participado num curso intensivo de alquimia africana, num lugar recôndito no Senegal. Aguardava ainda pelo diploma, pois da primeira vez que misturou pós numa das aulas práticas, desencadeou tamanha explosão que pegou fogo às cubatas. As autoridades policiais locais chegaram a admitir a hipótese de ter sido obra da Al Qaeda. Retiveram-lhe o passaporte durante o seu tempo de estadia no país. No entanto, este contratempo não obstou a que Giorgio lhe desse o aval financeiro para avançar. Mestre Albes do Celse logo se reuniu com o seu staff – Coxabamba Titonga, Mamudanska Pilona e Virgolinus Cunnilingus.
Coxabamba Titonga, uma feiticeira senegalesa que fazia jus ao nome e era uma bela e jovem negra com umas coxas portentosas, ligeiramente arqueadas e um fabuloso “aileron” traseiro de fazer inveja à Naomi Campbell, constituiu-se por mérito próprio na sua primeira assistente. Conheceu Celse no tal curso de magia africana que ambos frequentaram numa aldeia ainda distante de Dakar. Aí, Coxabamba trocou literalmente os olhos ao mestre, que nem com a sua macumba de bloqueio resistiu àqueles exóticos encantos. Celse, completamente preso pelo beicinho, convidou-a para continuar a fazer consigo fantásticos feitiços de alcova, dando-lhe sociedade no negócio que montara em Vilar do Visconde. A afluência de emigrantes africanos ao seu consultório chegou a ser, por vezes, alucinante. Num horário semanal normal, de segunda a sexta, das dez às dezoito horas, com um intervalo de uma hora para almoço, Coxabamba nunca despachava menos de uma vintena de clientes por dia. Um fenómeno. Assim, o negócio oculto e do oculto de Mestre Celse ia de vento em popa.
Pertencendo ao staff, a trintona Mamudanska Pilona, uma taróloga loira ucraniana, cujo par de baralhos baralhavam a cabeça e os olhos de qualquer um, que tinha consultório vizinho ao do Celse e de vez em quando lá abria a porta de ligação entre ambos, para com ele fazer uns breves biscates de circunstância, começou a ser relegada para segundo plano.
Virgolinus “Cunnilingus” era o castiço do quarteto. Lituano radicado em “Palermo” há mais de vinte anos, conhecia bem os meandros mafiosos da cidade. Para além das suas loucas predilecções eróticas, e sendo o elo de ligação entre Giorgio, figuras de topo do grémio da Fruta Corrupção & Putedo, apitadeiros e respectivas prostitutas contratadas, dedicava-se ao contrabando de diversos artefactos e era informador privilegiado de Celse. Recolhia informações dos diversos e ricos clientes do bruxo, com o objectivo de que nas consultas, ele as usasse subreptìciamente da forma mais lucrativa. Como o seu nome sugere, tinha um gosto especial pelas nativas do signo Virgem, as virgens. Era também conhecido pelo mágico das fantasias impossíveis. Com a sua arte, conseguia que muitas andrades corruptas clamassem “orgasmicamente” pelo Glorioso.
- Oh, Virgo, “bem… fica, fica, fica! - gritavam elas muitas vezes.
Mestre Albes do Celse estava no término das suas consultas diárias e aprestava-se para se dirigir para as traseiras do edifício onde detinha um anexo bem conservado, que em tempos idos para além de ter funcionado como lupanar, serviu de reservado de emergência para o que desse e viesse. Ali foi servido muito café com leite e chocolatinhos com ritmos e sotaques brasileiros a muitos “apitadeiros”. Também foi refúgio provisório no regresso atribulado de Giorgio, após a sua vergonhosa fuga para SanMilagro de Comportela com a conivência de funcionários judiciais. Foi ali que Giorgio, em ceroulas, declamou hipòcritamente mais um dos seus poemas, em segunda declaração de amor a Filó, e constituiu local de recolhimento e meditação para Creolina, quando esta começou a escrever as incríveis e escaldantes memórias da sua vida íntima com Giorgio. Prova disso, um conjunto de “birimbaus”, adereços eróticos “made in Brasil”, fios dentais, coleiras e açaimes de Bobby & Tareco, caixas de comprimidos para o meteorismo e a aerofagia, livros de poemas amarelecidos e esburacados pela traça, exemplares de “O Grande Seringador” e de “O Borda d’Água” e uma velha BIC com a tampa completamente roída com a marca da letra alfabética C (de Creolina) que com muito pó e cheios de teias de aranha se encontravam amontoados e esquecidos a um dos seus cantos.
Realmente um anexo com história!
Nessa altura, quando Celse chegou, já Coxabamba estava no interior do espaço à sua espera. O grande mocho, os morcegos e os sapos roncadores que partilhavam aquele cenário bruxo, agitaram-se quando ouviram o brusco tilintar do grande pagode chinês esquecido atrás da porta por uma tailandesa que em outros tempos lá tinha trabalhado em outras artes.
Por momentos o mestre e a assistente ficaram extasiados. Não era para menos. Num prazo de dois dias, e para o efeito pretendido, Virgolinus tinha entrado em contacto com Fyn-tó-Chui, um chinês importador de material pesado de Shangai, e tinha solucionado a questão. Através de grossas alvíssaras, como habitualmente, o laboratório saiu discretamente da alfândega de “Palermo” pela porta dos fundos com a equipagem totalmente completa, tendo logo sido montado ao pormenor no célebre anexo.
O laboratório era um autêntico labirinto de tubos, retortas e balões de ensaio ligados por serpentinas em vidro, refrigeradores e “bicos de Bunsen”. Começava numa caldeira de vidro grosso temperado, onde se colocava a “matéria prima” juntamente com diversos líquidos para formar uma calda grossa borbulhante, e acabava num grande balão onde se depositariam os resíduos que após passarem por um pequeno almofariz hidráulico constituiriam o pó milagreiro. Posteriormente a droga secreta teria a sua formulação só em cápsulas.
Albes do Celse, fascinado com o processo, dizia para Coxabamba:
- Ó filha, adiciona aí à calda umas boas raspas de pau-de-Cabinda, pois tenho a certeza que quando o pó estiver pronto e testado pelos atletas, o Giorgio vai querer tomá-lo para dar vazão às constantes solicitações da Filó. Como ele já não se aguenta nas “canetas”, carrega-lhe bem, com uma boa quantidade, pois assim teremos
garantida a sua aprovação. Depois é dinheiro em caixa. O viagra a partir daqui irá ter a concorrência do nosso “Pilagra”, o genérico da nova geração!
Coxabamba só desabafava:
- “Ó Celsi, nem pensis em tómá-lo nos tempos mais perto, poix eu com tánto trábálho já ándo tão di rástos qui já agora só faltava aguentá com a tua pisada pánça e com o teu horrível hálito à álho, meu!
O Bufo Real de estimação, também conhecido por Corujão, um mocho imponente apanhado em Sortelha e arrematado por mestre Celse num leilão de feira em Terreiro das Bruxas, que a par com o grande morcego da Austrália, os repelentes sapos roncadores e morcegos orelhudos compunha o cenário do anexo, com o seu grande olhar circunspecto, piava e espanejava as asas de estupefacção.
- Ok, ok, - dizia Celse pensativo - depois disto vamos de férias para a Jamaica e lá podes pôr-te em forma outra vez e eu também, ok?
A bela feiticeira esboçou um sorriso de alívio e lá continuaram ambos embrenhados na síntese do produto.
Ao fim de uma semana e depois de uma laboração permanente, Celse, ao ver os primeiros vestígios do tão almejado pó e a sua pureza cristalina, exclamou:
- Eureka, eureka! Conseguimos, Coxa! O pó exala um cheiro sulfuroso muito parecido com as bufas do “padrinho”, mas não importa, pois será tomado em cápsulas de cor azul. Agora é só testá-lo no Sirocco.
Sirocco era um atleta em ascensão comprado por “tuta e meia” e perspectivava-se mais uma cartada de Giorgio. Com uns jogos a um rendimento de alto nível, a valorização, num curto espaço de meses seria de cinco mil por cento. Um negócio chorudo, bem à moda de “Palermo” e à medida de Giorgio. A “azulinha” resultou em pleno e lá estava ele a caminho do país do spaghetti e de muita outra pasta para os derradeiros exames médicos. Quando tudo parecia bem encaminhado, o médico mandou-o mastigar um pouco de pasta misturada com rúcola e verificou que havia uma acentuada assimetria na mandíbula que lhe podia cortar a língua. Era o suficiente para o departamento médico da agremiação transalpina chumbar e rejeitar o pobre do Sirocco. Voltou desiludido e revoltado. Para saber do seu futuro marcou consulta com o Mestre Celse. Sirocco, muito confuso, perguntou-lhe se tinha sido da “azulinha”. O mestre ficou petrificado e meio aparvalhado respondeu-lhe:
- Olha, Sirocco, aqui ao lado está o consultório de um tal Dr. Galliani. Verás uma tabuleta com o nome dele. Trata lesões nos artelhos, “papos de galinha”, esporões de galo, joanetes e é especialista em alopécias precoces e assimetria das mandíbulas. Quando me perguntam, como tu me perguntaste agora, se o problema é daquele suplemento vitamínico de pó em cápsulas, prevejo logo que estamos perante um caso de assimetria das mandíbulas. Por isso te encaminho para ele, como já encaminhei outros, ok?
Em contrapartida, quando ele vê um problema de pó, recambia-me imediatamente o paciente para cá. Fazemos um intercâmbio, percebeste?
Sirocco, completamente à toa lá foi marcar uma consulta.
E assim, o Dr. Galliani continuou na maior. A sua actividade continua a render-lhe quinze milhões na conta e sabe-se lá, porventura, poderá estar à espera de investir com confiança absoluta, aí sim, com confiança absoluta em dois ou mais “bebés” que saiam do Campus seixalense.
Quanto ao famigerado quarteto mágico, continua a laborar em grande, com o Albes do Celse a tirar uma curso de conselheiro sexual, devido à comercialização do “Pilagra” e a bela Coxabamba a acabar a sexta classe para obter o diploma necessário ao exercício da sua actividade.
Virgulinus fez uma operação estética e alongou ainda mais a língua.
Mamudanska é apresentadora de televisão e aproveitou para retocar o busto.
Sirocco baptizou-se e Giorgio foi o “padrinho”.
E em terras transalpinas gozou-se à fartazana. Até no relvado do Giuseppe Meazza as formigas se riram…
…o “show” continuou e cantou-se o “Torna a ‘Palermo’”!
GRÃO VASCO